na janela assomavam dois olhos a olhar de cima
- como está hoje dona cremilde? - diria eu se tivesse dito
ela podia ser isaura, natércia ou assunção, maria simplesmente
podia ter-me respondido
- não se mace, eu vou indo, estou bem obrigada
nunca ofereci
- trago-lhe uma fruta
nem sequer
- bom dia, boa tarde, como vai?
- está passando bem dona eduarda?
nada
nunca fizemos dois dedos de conversa e nem lhe soube o nome
nunca ousei perguntar
- quer que lhe traga alguma coisa?
que eu não proporia
- eu subo, abre?
cheiraria a mijo
- e o banho, quem lho dá?
não diria eu que não me competia
- coma coma: um dia destes vai morrer de fome
- e os sobrinhos?
não lhe fiz promessas nem lhe limpei choros
nem nunca mais tinha visto os olhos dela lá em cima
nem reparara que faltava a velha senhora na janela
hoje lembrei-me do sorriso que me sorriu como sorriria aos meninos dela
tinha sido um dia
uma vez apenas
só agora lembro
5 comentários:
É bem assim, a dureza dos corações cega o entendimento de muitos que ignoram as dores alheias.
Mas enquanto a consciência puder acordar, e deixar-mos de julgar os outros, por nós mesmo, este mundo pode ainda semear amor e comunhão. O problema está no umbigo de muitos, tapando a visão do coração, enquanto alguns sofrem, outros julgam saber, e ter capacidade de julgar e condenar, pecam por engano de pensar serem o que não são.Que Deus abençoi a sra. da janela; que distribui sorriso humano, ao invés de olhar de condenação.
Bom resto de semana.
Quando a saudade aperta...
Bjo
E porque te lembraste?
E assim morrem sós e abandonados:(
Beijos
A menina também escreve bem...
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