entre o Castelejo e a Cordoama a esquecer as luzes dos
bares e as luzes dos carros e mais o que sabemos
Acabado o sol de derramar-se
mar adentro em estertores de laranjas e roxos, nem mais um foco onde se
determine: aqui é caminho, ali é precipício.
O inóspito avolumando-se: montes
e céu como se fora nos primórdios.
Paisagem de vultos gordos
como ventres prenhes ou coxas de mulher. Redondos recortados em azuis
muito escuros e em negros e, mal adivinhados, uns verdes rasos e opacos.
E o silêncio: nada que não seja o coração
da gente e o ar que nos sustenta a ir e vir, dentro e fora, fora e dentro.
Luz, apenas a luz da lua, que
hoje foi noite dela ser quase uma lua grande, redonda como sol em céu de
Outubro.
A lua inteira e não apenas
um recorte.
Que em noites em que ela não
se vislumbre, por ser o céu, um céu de tempestade, será só o alumiar de um
relâmpago que varrerá a escuridão dos montes e da rocha e das dunas e do mar.
O mar, sempre.
O mar presente no odor intenso
a algas e a peixe e a iodo, e a cheiros de quando fomos seres dentro dele, um
cheiro de útero que trouxemos de termos sido medusas e girinos: termos sido feto.
E aqui e ali um
branco que é o mar sempre revolto, sempre despedaçando-se no alcantilado da
falésia e a derramar humores
alvos na areia lá em baixo, lá muito onde nem adivinhamos.
Inóspitos com a gente
dentro, imaginando.
2 comentários:
Sempre um texto muito criativo.
Muito bonito!:)
Beijos
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