– Não
tragas vaidades que te ajoujem, grita Ermelinda ainda a pensar na andorinha
com papo encarnado que ela juraria que tinha visto a saltitar no gargalo do poço.
E
ninguém lhe responde, e ninguém a ouve, ou estará a outra escondida por detrás da janela.
– Não
tragas vaidades, grita-lhe.
Era,
sim, uma andorinha.
E no
entanto tinha aquele risco vermelho sob o papo: uma andorinha estranha como
estava a ser aquela primavera, pensou Ermelinda a dobrar duas peças de roupa
que tinha colocado no gargalo do poço. Ermelinda gritando desaforos
para a janela nem sequer aberta, e sem uma certeza de que a outra a
ouvisse.
– Vem antes
nua. Vem tal e qual te deitas com os homens.
A
andorinha teria sido ferida em farpa de vedação ou seria uma espécie rara que
ainda assim viera com as outras: as andorinhas voando pelos céus a trespassarem
continentes, e esta a voar distante do bando uns quantos metros, apenas porque
trazia no papo aquele risco da cor do sangue.
– Cabra,
gritava Ermelinda ao ar da tarde, minha grande cabra, e acomodava a
roupa seca na dobra do braço.
4 comentários:
Coisas de mulheres, só pode. Lindo este retalho encarnadao... :)
encarnado...
O sangue é vida e dor. Alegria e morte. O sangue tudo simboliza. Uma cor sem fronteiras.
É a Primavera:)
Beijos
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