sábado, 31 de março de 2012

andorinha







– Não tragas vaidades que te ajoujem, grita Ermelinda ainda a pensar na andorinha com papo encarnado que ela juraria que tinha visto a saltitar no gargalo do poço.
E ninguém lhe responde, e ninguém a ouve, ou estará a outra escondida por detrás da janela.
– Não tragas vaidades, grita-lhe.
Era, sim, uma andorinha.
E no entanto tinha aquele risco vermelho sob o papo: uma andorinha estranha como estava a ser aquela primavera, pensou Ermelinda a dobrar duas peças de roupa que tinha colocado no gargalo do poço.  Ermelinda gritando desaforos para a janela nem sequer aberta, e sem uma certeza de que a outra a ouvisse.
– Vem antes nua. Vem tal e qual te deitas com os homens.
A andorinha teria sido ferida em farpa de vedação ou seria uma espécie rara que ainda assim viera com as outras: as andorinhas voando pelos céus a trespassarem continentes, e esta a voar distante do bando uns quantos metros, apenas porque trazia no papo aquele risco da cor do sangue.
– Cabra, gritava Ermelinda ao ar da tarde, minha grande cabra, e acomodava a roupa seca na dobra do braço.

4 comentários:

Mena G disse...

Coisas de mulheres, só pode. Lindo este retalho encarnadao... :)

Mena G disse...

encarnado...

Jorge Pinheiro disse...

O sangue é vida e dor. Alegria e morte. O sangue tudo simboliza. Uma cor sem fronteiras.

wind disse...

É a Primavera:)
Beijos

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

desafio dos escritores
meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

ABRIL DE 2008
meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

Abril de 2009

Abril de 2009
ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein