estou aqui sem peça de roupa que
agasalhe
a tristeza desabrochou-me
erecta
firme
desejosa de deitar ramos
aspergir-se de lágrimas
reflorir em choros
no interior do que nem sei onde
eu sou um novelinho cor de palha
um rolinho de penas que os pardais
deixaram
um novelo das cartas
que nem nos escrevemos
estou aqui sem fato
não tenho nada que me identifique
espraiada como a areia
tomada
pela maré enchente
nada na pele me assinala
nada no meu rosto traduz
e eu morri um tanto
morri um pedaço enorme
onde tu existias
lá
onde te dizia até um dia destes
ficou vazio
e eu nunca te disse
nem uma palavra
e hoje
fico apenas muito triste
muita coisa ainda para dizer-se
muita mão ainda para apertar-se
e aquele etéreo
(tão etéreo que somos)
esvai-se no passado que fomos
3 comentários:
Que é dificil comentar... Está muito bonito!
E tudo vai passar sem expormos a nudez do que somos. Quando estamos preparados já é tarde. Excelente abordagem, um pouco arrepiante.
Cheio de sentimento, lindíssimo!
Beijos
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