sábado, 23 de julho de 2011

amarelo-limão

Trazem um lindo guarda-sol as senhoras que chegam, e eu distraio-me a olhá-las nesta manhã de praia com água gelada. Serão mãe e filha hospedadas num dos hotéis debruçados sobre a praia.
- não te esqueças de levar as almofadas,
terá dito a senhora mais idosa, a repetir o que já tinha dito antes de abalarem, estrada fora, a caminho da semana de férias,
e terá usado o mesmo tom imperativo, muito antes, muitos meses antes de aqui estarem:
- este ano vê se arranjas um hotel perto da praia, Margarida,
o mesmo tom que empregou decerto, nem há nada:
- não te esqueças da minha toalha,
como se tomasse banho e nem os pés molha.
Margarida é o nome da filha:
- Margarida, chega para lá a cadeira,
diz, e ajeita o fato de banho com uma risca amarela no decote, uma risca larga que lhe contorna o seio farto. Amarelo-limão sobre o preto do tecido que a senhora estica um tudo-nada nas virilhas e sobre as coxas adiposas.
- preto, quero um fato de banho preto,
e terá sugerido:
- este ano, devias levar um guarda-sol maior,
este, que a senhora mais nova abre com gestos compassados, numa larga sombra: riscas finíssimas em tons de lilás, que alternam com um amarelo muito claro. Um guarda-sol de que eu gosto.
E a mãe, de novo:
- estica bem a toalha para não ficarem vincos no corpo,
e amacia o tom, quase choraminga:
- o médico disse que desse sol directo sobre as pernas.
Eu a olhá-las detrás dos óculos muito escuros: os delas e os meus, nem sei se oiço, se imagino.
A senhora mais nova acomoda-se na cadeira, senta-se nas almofadas no mesmo tom do lenço que lhe prende o cabelo impecávelmente penteado.
Debaixo do guarda-sol nada se passa que não seja mãe e filha, e o amarelo-limão das almofadas.
Nem a minha imaginação para quebrar tanto sossego,

Não estivesse a água tão gelada, e mergulhava.

7 comentários:

Jorge Pinheiro disse...

E vento. Muito vento...

wind disse...

O sossego é bom.
Beijos

francisco disse...

água gelada... aí pelos 18/19 graus e é água gelada?

alfacinha disse...

vivem a sua vida
é um relato engraçado
cumprimentos

Anónimo disse...

Gosto!

Vasco Matos

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Lembro-me que Miguel Torga se referiu a um certo tipo de veraneantes (apetece-me pensar que se referia ao mês de Agosto) dizendo que a imagem das sereias citadinas era dos espectáculos mais deprimentes que o litoral português podia apresentar. Ou algo neste género. Eu concordo.

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

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meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

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meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

Abril de 2009

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ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein