sexta-feira, 29 de julho de 2011

o tio

Eram as férias grandes e a mãe mandava-mo
que viesse a banhos de mar para casa do tio Afonso
era assim desde a idade de seis anos
e nunca o tinha sequer admoestado
até hoje
- homessa – respondeu-me a coçar o pescoço com a mão dobrada, a venta larga latejando de um ar que lhe sobrava
vivaço o moço, pensei, e nunca o tinha visto senão menino, e nem aquele dobrar do joelho ininterrupto, enquanto me olhava
desisiti do intento que era fazer que confessasse
arrepiei caminho que mentir-me era doer dobrado, e eu queria muito perdoar-lhe
tentei bons modos:
- olha-me cá, Carlos, melhor será que a guardes na garagem, enquanto não a devolves
nem me olhou
agarrou a motorizada com as mãos abafando os punhos de borracha, e lá foi deslizando o engenho para dentro, eu atrás dele:
- mas olha que é só por hoje, olha que nem pensar em ficares com ela
e o moço esbaforindo, galgou de um só passo a berma baixa que fazia rebordo do passeio onde detivera a moto, assim lhe chamava ele, mas aquilo nem era mais que uma bicicleta movida por um motorzinho - um brinquedo que teimou em dizer seu
o meu sobrinho dilecto, o Carlos com apelido Ribeiro tal e qual o meu, a tentar ludibriar-me
que sim, que o Ernesto lha vendeu por uns tantos réis que tinha no mealheiro de anos e natais
disse assim e rematou com um:
- sabe?
como se falasse verdade, e não falava
a Domingas do supermercado avisara-me:
- olhe que eles roubaram uma motorizada: o seu sobrinho e mais o Malhado - o Ernesto do terceiro frente, vendo senhor Ribeiro?
tava vendo, tava: o sonso do Ernesto, filho da parteira
e o sacana do Carlos a arrumar a motoreta na garagem:
- posso colocar deste lado? - acalmara o latejar da venta
e eu desorientado, eu a querer resolver a coisa do melhor modo, que terei falado sem o devido tacto quando disse:
- Carlos, essa merda não fica aqui em casa: vai entregá-la ao dono
e os catorze anos do filho único da minha irmã mais velha tinham-me olhado como se eu tivesse enlouquecido, redondos de um sincero espanto:
- quem lhe disse isso, tio?!
ofendido de estar a ser acusado injustamente
a olhar-me como quem diz: está doido varrido?!
e eu, a vê-lo fedelho, decido que melhor seria esperar uma noite, deixar que entenda o erro, que na manhã seguinte devolva o furto
e, neste meu golpe estratégico, digo-lhe:
- sobe para o teu quarto, Carlos, amanhã voltamos a falar sobre isto

(chamei o Ernesto e a mãe dele, mais a Domingas
devolveram a motorizada
mas ninguém mais me devolve a noite que passei a congeminar: com devo proceder, meu deus, como devo sem umas boas chapadas?)







3 comentários:

Vasco Matos disse...

É das noites bem congeminadas que saem as decisões mais avisadas ;)

Anónimo disse...

DIA 9 próximo vamos promover uma COLETIVA em homenagem a ROLANDO PALMA, nosso companheiro do ENTREMARES, e TERTÚLIA VIRTUAL. Participe e divulgue. Mais detalhes na Central de Relacionamento da TERTÚLIA VIRTUAL

http://tervirtual.blogspot.com/

wind disse...

Boas decisões:)
Beijos

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

desafio dos escritores
meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

ABRIL DE 2008
meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

Abril de 2009

Abril de 2009
ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein