Tenho saudades dos livros que lia quando nem sabia que havia idades
Quando os livros, e era isso que eu sabia, tinham cor
Era uma cor que se sentia
As folhas e o de dentro, as letras, as frases
os mistérios, que eu nem ainda lia, saltavam coloridos
Como eu gostava de abrir cada um dos livros
E olhar os segredos das pessoas grandes
As marcas entre duas páginas, diziam:
espera-me que ainda vou descobrir o que tens guardado
Era o que eu julgava
Seria?
Sei que sentia um respeito grande por aquele pedaço
Era o que eu julgava
Seria?
Sei que sentia um respeito grande por aquele pedaço
resto de um maço de tabaco
ou folha de árvore
ou um retrato entalado entre duas páginas,
reservava apenas a uma pessoa o direito de descobrir o que vinha adiante
Quando retirada do espalmado em que ficara da manhã para a tarde
ou folha de árvore
ou um retrato entalado entre duas páginas,
reservava apenas a uma pessoa o direito de descobrir o que vinha adiante
Quando retirada do espalmado em que ficara da manhã para a tarde
da tarde para noite, poucas horas, nunca vinte e quatro,
era o mundo saltando das páginas do livro
A pessoa crescida mergulhava na história e eu admirava, encantada
sentada no chão, quieta, muito calada, olhava quem assim lia
Mirava-lhe o mover da cabeça, o piscar ritmado de um olho,
A pessoa crescida mergulhava na história e eu admirava, encantada
sentada no chão, quieta, muito calada, olhava quem assim lia
Mirava-lhe o mover da cabeça, o piscar ritmado de um olho,
o ir e vir dos dois de um canto ao outro
e o erguer ou baixar dos extremos da boca
Um sorriso, um descair de choro
O que seria preocupação, eu o pensava, que fazia acentuarem-se,
Um sorriso, um descair de choro
O que seria preocupação, eu o pensava, que fazia acentuarem-se,
espessas, quase numa única, as duas sobrancelhas
Uma magia de que sinto saudades
Uma magia de que sinto saudades
Saudades das tardes em que eu ficava,
subida na cadeira da sala, espreitando os livros da estante
Pequenos uns, de lombadas grossas e tão grandes, outros
Precisava muito esforço para os retirar e colocar no tapete
Pequenos uns, de lombadas grossas e tão grandes, outros
Precisava muito esforço para os retirar e colocar no tapete
Ficar a folheá-los
E a saudade que eu sinto do responder convicto
quando a mãe chamava para o almoço:
estou a ler, já vou.
Os livros tinham cor, sim
Uma cor vistosa que os cobria a todos
e foi essa cor que eu esqueci
estou a ler, já vou.
Os livros tinham cor, sim
Uma cor vistosa que os cobria a todos
e foi essa cor que eu esqueci
11 comentários:
Não esqueceste, não.
A cor dos livros está toda aqui , na cor deste texto!
Mais um texto onde não deixas de falar da tua mãe (que eu tão bem conheço e tanto admiro e que há muito não vejo - culpa minha)mesmo que seja só uma mínima referência.
Lindo como sempre!
Uma VELHA AMIGA.
Lembro-me de gostar de estar constipado por 3 motivos: não ia à escola, tomava xaropes e pedia à minha mãe que me comprasse livros... Beijo!
Escritora uma descritiva e emocionante prosa.
Quem escreve assim, não esquece a cor dos livros:)
Beijos
... "descobrir o que (há) tens guardado" dentro dos livros.
Assim as pessoas o fizessem!
Bjs
Belíssimo!
.
Olá,
Caí aqui por acaso e não me arrependo.
Estou com pouco tempo agora. Prometo voltar.
Estou no INSTANTES
[]
Z.
os livros tinham cores? que ridículo. que falam, isso sim que eu bem os ouvia a falar uns com os outros nas estantes, agora cores???
Nem por lapso esquecerias amiga! Gostei deste e do com o qual participaste no Eremitério :-)
Vejo que o teu problema de daltonismo se agrava. Volto a lembrar-te que as páginas sempres foram brancas. As substâncias alucinógenas é que te faziam ver cores, ok?
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