quinta-feira, 20 de junho de 2019

in memória

dizem-me: morreu
e eu fico atenta ao passo que, em mim, será o derradeiro
cresce-me no quintal rama de rabanetes
e as alfaces estão cheias de viço
de mim
hão-de restar, indiferenciados, moléculas e átomos
mais do que isso, não sei, não acredito
nada que tenha o meu registo
nada que diga: esta fui eu
partículas, essas, sim,
hão-de recombinar-se em tomate, coentros, rama de nabo
talvez madeira de alguma árvore que alguém queime para aquecer-se
talvez uma gaivota leve nela algum dos meus despojos a ser-lhe ajuda com que,
lá do alto, desça a pique e colha uma sardinha ou outro peixe
mas este eu que eu sou desaparece por completo
desexiste
dizem-me: morreu e eu receio
apenas porque...pronto
porque gosto disto
e gostava de comer os rabanetes






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a vida tem destes mistérios e eu soube, após publicar este texto, que o José Rosa Sampaio partiu de entre os vivos
que exista um canto neste espaço infinito onde possa descansar e rir esse sorriso 
que seja assim a derimir a minha pouca crença
obrigada pelos seus ensinamentos querido amigo



1 comentário:

wind disse...

Escreves para mim. Eu explico, se eu escrevesse este poema encaixava que nem uma luva em mim :)

Tenho uma grande identificação nos teus poemas que é incrível, Escritora:)
Beijos

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

desafio dos escritores
meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

ABRIL DE 2008
meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

Abril de 2009

Abril de 2009
ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein