segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

a matança


Fomos expressamente para "a matança". Celebrar a fartura em volta da morte (e sofrimento?!) do animal.

E no entretanto de já nada ser como era dantes, há o convívio e o trabalho que, sabe-se lá por que magia, só cansa quando paramos...
E, sejamos honestos, fica o sabor que tudo aquilo tem...
Uma carne tão saborosa! - e lambemos os beiços e os dedos depois daqueles picos de cachaço grelhados ali mesmo, o animal ainda quente...
Criatura alimentada a bolota! - pudera que seja a carne assim gostosa...
Porco preto, ali do Baixo Alentejo! - sentenciam os da casa.

E é a surraburra : o sangue cozinhado e derramado sobre pão migado em fatias, e a cortar o travo forte do sangue ainda tão sangue, ou será outro o motivo, o certo é que liga divinamente a  laranja às rodelas que vem sobre-nadando a tigela onde o manjar é servido.
E os torresmos: em cima de uma fatia de pão, os picos de toucinho que ficaram da banha, "crocantes" como se usa dizer agora aos cozinheiros gourmet...
E a couve do jantar do dia mesmo que o bicho morreu: não há adjectivos para dizer do legume fresquíssimo besuntado do toucinho ainda a saber a vivo.
Usos ali numa aldeia da raia, com o Rosal de La Fronteira a meia dúzia de quilómetros...
Pela manhãzinha tinha sido a azáfama de limpar o coiro de pelos e dejectos, e os  homens petiscando e bebendo a desmanchar a carnes.


E aquela técnica de picar... Bocadinhos que irão encher a tripa para fazer as linguiças. 
Mas isso será depois de a carne ter tomado condimento forte por dois dias ou mais.





E há que colocar na salga a carne para o  presunto, e nela a dose certa de pimenta junto ao osso para que não entre o mal, não apodreça, não lhe dê a mosca varejeira... 

Uma festa estes dias de matança e nem se pensa mais que aquele monte de iguarias é resultado do animal que os homens mataram...
Alimento para todo o ano, e nem míngua,  antes dobrará, o que é dado a quem vem dar uma mão ou o que é enviado àquele que não pôde vir nem para a couve do jantar, nem no dia seguinte, nem mesmo para ajudar nos enchidos...
Há sempre um naco a assinalar no prato dessa gente a matança que decorreu.
E que Deus abençoe casa tão farta e lhe acrescente!
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.


4 comentários:

wind disse...

Embora goste de tudo isso, acho a matança do porco uma coisa horrorosa!
Seria incapaz de assistir!
Beijos

REJO MARPA disse...

Revi-me na festa, mas longe da matança...
Bela descrição...

Jorge Pinheiro disse...

Grande farra. Para o porco também :))

Claire-Françoise Fressynet disse...

Com todo respeito pelo o Sr. da naifa e pelo o animal que os bifes não nascem nas embalagens.

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

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meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

ABRIL DE 2008
meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

Abril de 2009

Abril de 2009
ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein