- A questão, disse Inesinha, e esticava as pernas vestidas de negro transparente, os pés dela calçados com sapatos rasos atados com cordões.
Mariana mal a escutava, a olhar o mar em frente, um mar que ficara excepcionalmente calmo depois da tormenta que fora a noite.
Sobre a mesa, a chávena de chá que Inesinha beberricava de vez em quando, e entretanto puxava fumaças dum cigarro tamanho gigante com filtro castanho.
E havia ainda a caneca que Mariana envolvia com a mão direita, o bojo embaciado, e o vermelho das unhas dela a fazerem reflexos ondulantes sobre o amarelo borbulhante da cerveja.
Um sol de outono borrava sombras redondas no chão de cimento da pequena esplanada.
- A questão é essa, Mariana, entendes?
E Inesinha debruçava-se sobre o tampo da mesa, a chávena espetada num ar de maresia.
Segurava com dois dedos a asa fervente a levar aos lábios sem pintura o que seria um sorvo ruidoso.
Dizia das suas razões. Contava como tinha sido, aventava como seria, e rematava com uns "sabes?" e uns "percebes?" ou esganiçava um "ouves-me?".
E nesse ir dizendo da amiga, Mariana bebia tranquila mais um gole.
2 comentários:
Adoro as tuas descrições pormenorizadas:)
Beijos
A questão é mesmo essa!
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