Cambiantes de cera e os reflexos que a luz lhe confere. E nem um veio, um vinco, um dedo marcado de quem ali a tenha colocado por promessa, enfeite, ou tão só pelo gosto de a ver pasmada aos pés de cristo-morto. Nenhum sujo de óleo que tivesse escorrido de um guizado. Brancura apenas, e os laivos multicores da luz coada nos vitrais.
Uma flor boiando no altar de nosso senhor.
Pungente, lancinante, o grito que já nem se ouve e ainda assim perdura pelos séculos, pelos milénios, mares e desertos, pragas e festins, mortes e nascimentos, e o rumor intenso do homem-deus morrendo pelos outros. O mesmo rumor que atravessa o branco desta flor em taça de vidro, soprado por pulmão de um que nem terá vivido no temor a deus.
Estames cor do oiro, e nem caule que a erga, magestosa. Uma corola em pura singeleza, diria que submissa, diria que temente. Diria mesmo que estará orando: perdão, senhor, imploro, pelos meus pecados e pelos pecados de todo o universo.
2 comentários:
Ai o Deus anda muito longe:)
Beijos
Pelos de todo o universo… Gostei muito.
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