sábado, 1 de agosto de 2009

que pena tenho

Pensei escrever uma carta de amor. Ou simplesmente mimar: escrever de faz de conta a um ente imaginado. Seria ideal para cumprir o pedido ali no
Pensei e tinha nisso gosto.
Dizer, a começar :
Estimado
Seguido do nome (o nome amado ou, no caso vertente, o mais certo é que fosse um nome suposto, por exemplo, Eduardo ou Pedro ou Inácio)
Logo abaixo, na linha de começo, escreveria um início de prosa que colasse o meu amado (verdadeiro ou suposto) ao que viesse escrito no restante.
Uma prosa que o fizesse ler cada palavra e cada sílaba, desde o início até ao rodapé da folha e, se fosse o caso, ler ainda o que viesse no seu verso.
Qualquer coisa que seria, por exemplo:
Escrevo-lhe porque de cada vez que o encontro me falta a coragem para abordá-lo.
E seguiria confessando o meu amor e o meu intento, até que terminasse com um enorme e sufocado:
Aguardo, ansiosa, uma resposta.
Seguir-se-ia a assinatura meio tremida traduzindo emoção e quiçá um nico de vergonha.

Pensei escrever uma carta de amor, mas de repente recordei a regra fundamental que era passada de orelha a ouvido ou vinha escrita em livrinhos de receita de bem-fazer a carta de pedido de namoro ou declaração de muita e eterna estima.

Quem foi do tempo de receber na caixa do correio ou, mais frequente, por mão que no-la trazia, a medo, sempre fugindo de olhares que devassassem tal intento.
Quem foi desse tempo, sabe porque hesito, porque me impeço de escrever a lauda que diria, em certo ponto:


do fundo do meu peito, Eduardo ou Pedro ou Inácio, eu amo-o e não tenho olhos para nenhum outro

Acrescentado, arrebatada:

Morro.


Mas carta de amor é coisa redigida. Coisa de caligrafia.
Coisa de papel cheirando ao creme, à brilhantina, ao perfume.
Simplesmente cheirando à flor que viesse enfeitando a missiva, que poderia trazer um ou outro borrão se fosse a dita escrita no tempo da caneta de tinta, que esferográfica é coisa mais recente.
Carta de amor não se escreve à máquina - era regra que passava de um a outro.
Como posso, então, escrever aqui na net uma carta de amor como eu pensava?
E ainda acresce:
Era coisa costumada que no final, bem disfarçado e num gesto de apressar e deixar o comparsa àvontade, se escrevesse algo como isto:
Se não se quiser dar ao trabalho de responder por escrito, pode devolver-me esta dobrando o canto direito para SIM e o esquerdo para NÃO.
Ora este mimo ser-me-ia impedido usando este suporte, o que retiraria uma dose do encanto a acrescer ao facto, impeditivo, da escrita com teclado.
Tenho pena.

No entanto, se houver interessados, mandem-me a morada que eu envio um original dactilografado sem qualquer espécie de compromisso.

15 comentários:

angela disse...

Muito criativa sua carta. Gostei e muito.
abraços

Mah disse...

Q graça esse texto! Muito criativo e dinâmico, adorei mesmo!
Espero que continuemos a nos esbarrar nesse Coletivo, lá participo com Cartas ao Meu Amor e Pucca Ama Garu.
Bjsss

Serena Flor disse...

Muito criativa a tua participação viu...adorei!
Também peguei este coletivo...rs
Um grande beijo e até mais!

wind disse...

Escritora, deste a volta ao tema e escreveste uma carta de amor:)
Beijos

Letícia Alves disse...

Adorei, principalmente sobre a dobra do papel e seu significado.
Beijos Tempestuosos!

Li Ferreira Nhan disse...

Maria de Fátima
que análise minuciosa de uma carta de amor.
Realmente, aqui elas não cabem...
Gostaria do original, mas não datilografado.
Escrita a caneta tinteiro.
Como deve ser!
bjs
li

Nanda Botelho disse...

Saudade...Nostalgia...

Chora o passado e suas alegrias.

Mas não deixa de apreciar o que vem pela frente, pois um dia irás chorar novamente, o que ficou para trás.

Também estou participando, peguei o coletivo andando, pois confundi o dia da partida!

Bjão!

Mena G disse...

Genial, pois claro!
Que volta conseguiste dar à carta num quase "não a escrevendo"... Fantásctico!

M. Nilza disse...

Fantástica!!

Assim resumo sua carta e seu blog!
Eu terminei de ler, rindo daí pensei em sobre como iria comentar, olhei para o lado e li: HUMOR..É isso que fez a diferença do seu blog e sua carta, entre amor tudo que se relaciona, vi humor e muito bom humor!

Amei.

Beijos

Unknown disse...

Estou a passear pela blogagem colectiva e a ler a participação de todos.

Gostei muito do seu post. Sobretudo esta parte:

«Mas carta de amor é coisa redigida. Coisa de caligrafia.
Coisa de papel cheirando ao creme, à brilhantina, ao perfume. Simplesmente cheirando à flor que viesse enfeitando a missiva, que poderia trazer um ou outro borrão se fosse a dita escrita no tempo da caneta de tinta, que esferográfica é coisa mais recente....»

Você é uma pessoa romântica.

Lindo. Parabéns.

Gostei de conhecer o seu blogue e deixei o meu urso nos seus seguidores.

Abraço.

Ví Leardi disse...

Adorei...muito original e seu texto cativante e impecável...Parabéns..Grande abraço.

Clara Sousa disse...

muito como disse uma amiga logo acima, muito minuciosa a descrição que fez de uma carta, de uma elegancia só.
bj!

Jorge Pinheiro disse...

Temos todos...

. disse...

sim..me chamou a atenção o fato de que realmente quem é do tempo de as receber pelo correio..sabe bem que diferença tem..
tinham cheiros..letras que se via muito mais do que se lia.
Beijos

lis disse...

Criativa, bem humorada,inteligente.
Gstei demais. Abraços

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

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"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
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