Pensei e tinha nisso gosto.
Dizer, a começar :
Estimado
Seguido do nome (o nome amado ou, no caso vertente, o mais certo é que fosse um nome suposto, por exemplo, Eduardo ou Pedro ou Inácio)
Logo abaixo, na linha de começo, escreveria um início de prosa que colasse o meu amado (verdadeiro ou suposto) ao que viesse escrito no restante.
Uma prosa que o fizesse ler cada palavra e cada sílaba, desde o início até ao rodapé da folha e, se fosse o caso, ler ainda o que viesse no seu verso.
Qualquer coisa que seria, por exemplo:
Escrevo-lhe porque de cada vez que o encontro me falta a coragem para abordá-lo.
E seguiria confessando o meu amor e o meu intento, até que terminasse com um enorme e sufocado:
Aguardo, ansiosa, uma resposta.
Seguir-se-ia a assinatura meio tremida traduzindo emoção e quiçá um nico de vergonha.
Pensei escrever uma carta de amor, mas de repente recordei a regra fundamental que era passada de orelha a ouvido ou vinha escrita em livrinhos de receita de bem-fazer a carta de pedido de namoro ou declaração de muita e eterna estima.
Quem foi do tempo de receber na caixa do correio ou, mais frequente, por mão que no-la trazia, a medo, sempre fugindo de olhares que devassassem tal intento.
Quem foi desse tempo, sabe porque hesito, porque me impeço de escrever a lauda que diria, em certo ponto:
do fundo do meu peito, Eduardo ou Pedro ou Inácio, eu amo-o e não tenho olhos para nenhum outro
Acrescentado, arrebatada:
Morro.
Mas carta de amor é coisa redigida. Coisa de caligrafia.
Coisa de papel cheirando ao creme, à brilhantina, ao perfume.
Simplesmente cheirando à flor que viesse enfeitando a missiva, que poderia trazer um ou outro borrão se fosse a dita escrita no tempo da caneta de tinta, que esferográfica é coisa mais recente.
Carta de amor não se escreve à máquina - era regra que passava de um a outro.
Como posso, então, escrever aqui na net uma carta de amor como eu pensava?
E ainda acresce:
Era coisa costumada que no final, bem disfarçado e num gesto de apressar e deixar o comparsa àvontade, se escrevesse algo como isto:
Carta de amor não se escreve à máquina - era regra que passava de um a outro.
Como posso, então, escrever aqui na net uma carta de amor como eu pensava?
E ainda acresce:
Era coisa costumada que no final, bem disfarçado e num gesto de apressar e deixar o comparsa àvontade, se escrevesse algo como isto:
Se não se quiser dar ao trabalho de responder por escrito, pode devolver-me esta dobrando o canto direito para SIM e o esquerdo para NÃO.
Ora este mimo ser-me-ia impedido usando este suporte, o que retiraria uma dose do encanto a acrescer ao facto, impeditivo, da escrita com teclado.
Tenho pena.
Ora este mimo ser-me-ia impedido usando este suporte, o que retiraria uma dose do encanto a acrescer ao facto, impeditivo, da escrita com teclado.
Tenho pena.
No entanto, se houver interessados, mandem-me a morada que eu envio um original dactilografado sem qualquer espécie de compromisso.
15 comentários:
Muito criativa sua carta. Gostei e muito.
abraços
Q graça esse texto! Muito criativo e dinâmico, adorei mesmo!
Espero que continuemos a nos esbarrar nesse Coletivo, lá participo com Cartas ao Meu Amor e Pucca Ama Garu.
Bjsss
Muito criativa a tua participação viu...adorei!
Também peguei este coletivo...rs
Um grande beijo e até mais!
Escritora, deste a volta ao tema e escreveste uma carta de amor:)
Beijos
Adorei, principalmente sobre a dobra do papel e seu significado.
Beijos Tempestuosos!
Maria de Fátima
que análise minuciosa de uma carta de amor.
Realmente, aqui elas não cabem...
Gostaria do original, mas não datilografado.
Escrita a caneta tinteiro.
Como deve ser!
bjs
li
Saudade...Nostalgia...
Chora o passado e suas alegrias.
Mas não deixa de apreciar o que vem pela frente, pois um dia irás chorar novamente, o que ficou para trás.
Também estou participando, peguei o coletivo andando, pois confundi o dia da partida!
Bjão!
Genial, pois claro!
Que volta conseguiste dar à carta num quase "não a escrevendo"... Fantásctico!
Fantástica!!
Assim resumo sua carta e seu blog!
Eu terminei de ler, rindo daí pensei em sobre como iria comentar, olhei para o lado e li: HUMOR..É isso que fez a diferença do seu blog e sua carta, entre amor tudo que se relaciona, vi humor e muito bom humor!
Amei.
Beijos
Estou a passear pela blogagem colectiva e a ler a participação de todos.
Gostei muito do seu post. Sobretudo esta parte:
«Mas carta de amor é coisa redigida. Coisa de caligrafia.
Coisa de papel cheirando ao creme, à brilhantina, ao perfume. Simplesmente cheirando à flor que viesse enfeitando a missiva, que poderia trazer um ou outro borrão se fosse a dita escrita no tempo da caneta de tinta, que esferográfica é coisa mais recente....»
Você é uma pessoa romântica.
Lindo. Parabéns.
Gostei de conhecer o seu blogue e deixei o meu urso nos seus seguidores.
Abraço.
Adorei...muito original e seu texto cativante e impecável...Parabéns..Grande abraço.
muito como disse uma amiga logo acima, muito minuciosa a descrição que fez de uma carta, de uma elegancia só.
bj!
Temos todos...
sim..me chamou a atenção o fato de que realmente quem é do tempo de as receber pelo correio..sabe bem que diferença tem..
tinham cheiros..letras que se via muito mais do que se lia.
Beijos
Criativa, bem humorada,inteligente.
Gstei demais. Abraços
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