segunda-feira, 15 de junho de 2009

eu sinto-me em casa




Eu sinto-me como se fosse em casa
nos cheiros de lenha espraiando-se pelas noites
e nos cheiros de menina que eram cheiros de borracha e tinta
No deslizar sonâmbulo de um comboio
e eu a derramar olhares na paisagem

No poial de casa em tardes mornas de estio
o queixo apoiado nas mãos e os cotovelos a furar joelhos
Na sombra de uma árvore com o sol a pino
e eu num sonho lindo de um dormir pasmado


Eu sinto-me em casa quando me afagam o cabelo
ou naquele abraço a derrubar o muro da distância
Eu estou em casa na amena cavaqueira com a amiga
horas e mais horas derramadas de vida



Eu estou quase sempre a sentir-me em casa

Mas onde eu estou como se estivesse
e nem é semelhante, nem durável
ah! mas como me sinto em casa nesses momentos
nesses espaçados instantes em que abraço vida e morte
nesse planar-me eu em alma e corpo para a casa onde moro
Eu nadando num calmo mar transparente
ou apanhando a onda na espuma soluçante de um sueste

E eu estou como se fosse o local mais certo
o local de eu dizer este é o meu lar
quando me banho na água de um rio
as flores multicores do loendro nas margens, acenando


(Há um local que será a casa que eu não tive
a casa que me ficou espraiada em tanto caminho saltitado.
Há um local onde eu sei que me sentirei em casa.
O sítio que construo dia a dia, pedra a pedra,
terá varandas e portas e janelas
a desaguar cada uma sobre o nada,
algures no Universo.

Mas é ainda incerto
Por isso é que não conto desse sítio)



14 comentários:

Adelino disse...

Maria de Fátima, muito linda a sua participação. Gostei muito.
Abraços.

Serena Flor disse...

Seu texto é belíssimo, mas te confesso que fiquei curiosa...rsrs
Parabéns pela participação minha querida!
Um grande beijo!

Raquel disse...

Adorei Maria de Fátima!!
Parabéns pelas lindas palavras!

Também participo da Tertúlia!
Xêro
Raquel

Jorge Pinheiro disse...

Mantenha o segredo. Nem tudo o que é bom se deve partilhar. Já viu esse sítio invadido?

Mena G disse...

Gosto muito das tuas casas...
;)

jugioli disse...

Um lindo e profundo poema.

adorei conhecer!!!


@dis-cursos

entremares disse...

Algures no Universo...

É verdade, algures por aí, cada um vai construindo a sua casa... ob ra da criação.
A casa também tem que ser sonhada, não é ?

Gostei muito.

wind disse...

Escritora, adorei este teu "escrito":)
Beijos

O Micróbio II disse...

Vou ficar por aqui... sinto-me em casa... :-)

Marta disse...

é certamente um lugar dentro de si. ou muito muito parecido.

um grande beijinho de mar


ps. eu participei pela primeira vez :)

dade amorim disse...

Gosto muito de seu poema, da linguagem que usa e que é de comunicação direta sem perder o estilo. E é sempre bonito ver alguém abrir espaço ao sonho como você faz.
Um beijo, Maria de Fátima.

Paula Raposo disse...

Para quando o próximo livro?! Beijos.

Compondo o olhar ... disse...

desculpe o atraso, mas estava impossibilitada por causua de uma cirurgia. mas agora estou bem e retornei!!!
parabéns, adorei sua participação em mais esta intrigante tertulia!!!

bjocas

Li Ferreira Nhan disse...

Maria de Fátima,
que segredo lindo que estas a guardar!
Parabéns pela encantadora participação da Tertúlia!

Perdoe-me o atraso, estou lendo as Tertúlias aos bocados pois ainda estou viajando...
Estive por suas terras, amanhã retorno a Madrid
beijos
Li

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

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meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

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meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

Abril de 2009

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ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein