Todos andámos na terceira classe. Um dia. Todos tivemos um bibe mais ou menos branco ou de quadradinhos ou uma saia de pregas em azul-escuro e um casaco com botões amarelos.
Mas nem todos tivemos uma mala de cartão debruado a metal fininho.
Nada sequer de especial: placas de cartão prensado a formarem uma caixa. Uma mala normal. Diferia apenas que a mala de uma menina da terceira classe tinha, ao menos a minha sei que tinha, um mistério. Um mistério enorme para além dos cadernos de linhas e da lousa e do livro de leitura com uma capa colorida onde os meninos corriam a sorrir e a segurar bandeiras.
A minha mala era castanha com uma asa arredondada e exalava um cheiro inebriante. Um odor intenso.
Eles a chamarem: anda jogar ao prego, ao manecas, anda saltar á corda. Eles a chamarem-me que brincasse e eu de volta do abrir e fechar da mala. Eu a deliciar-me.
Durou uns dias e passou-me. No Natal já eu abria e fechava a mala a retirar a caneta de aparo e o mata-borrão rosado e nada de pensar em cheiros.
Joguei muitos jogos, esfolei os joelhos, rasguei bibes e o cós das saias. Brinquei. Nem me lembro bem como, nem com quem, mas o cheiro da mala nunca o esqueci.
Hoje veio-me às narinas esse odor tão raro.
Mas nem todos tivemos uma mala de cartão debruado a metal fininho.
Nada sequer de especial: placas de cartão prensado a formarem uma caixa. Uma mala normal. Diferia apenas que a mala de uma menina da terceira classe tinha, ao menos a minha sei que tinha, um mistério. Um mistério enorme para além dos cadernos de linhas e da lousa e do livro de leitura com uma capa colorida onde os meninos corriam a sorrir e a segurar bandeiras.
A minha mala era castanha com uma asa arredondada e exalava um cheiro inebriante. Um odor intenso.
Eles a chamarem: anda jogar ao prego, ao manecas, anda saltar á corda. Eles a chamarem-me que brincasse e eu de volta do abrir e fechar da mala. Eu a deliciar-me.
Durou uns dias e passou-me. No Natal já eu abria e fechava a mala a retirar a caneta de aparo e o mata-borrão rosado e nada de pensar em cheiros.
Joguei muitos jogos, esfolei os joelhos, rasguei bibes e o cós das saias. Brinquei. Nem me lembro bem como, nem com quem, mas o cheiro da mala nunca o esqueci.
Hoje veio-me às narinas esse odor tão raro.
Um cheiro que seria apenas resultante do paninho de apagar a lousa misturado com restos de borracha soltos. Ou seria o cheiro da cola de que era feita a mala. Ou seria disso tudo e mais do sabão azul e branco com que era lavado o guardanapo que me levava o lanche.
No entanto, era um cheiro mágico, garanto.
No entanto, era um cheiro mágico, garanto.
Um cheiro que nem terá, assim, uma explicação. Que nem seria um cheiro com origem em moléculas mais ou menos esquisitas.
Estou plenamente convencida. Era um cheiro especial.
Um odor sentido apenas por cada menina que andasse na terceira classe e tivesse uma mala de cartão prensado.
Naquele tempo, claro.
5 comentários:
Que maravilha esse cheiro mágico! Adorei ler-te...como sempre! Beijinhos.
Esses cheiros da infância, quando voltam... Acreditas que ainda me lembro do cheiro da borracha que vinha no estojo que me compraram para a 1.ª classe? Beijo!
O que mais lembro é do cheiro os cajueiros. Acho que ninguem esquece o cheiro do caju maduro.
Escritora, que bom recordar a tua e minha infância:)
Tal como tu, também tive malas de cartão a cheirarem muito bem, canetas de tinta permanente, tinteiros, usei uma bata azul e branca, brinquei no recreio que me fartei,...:)
Muito boa esta tua "estória":)
Beijos
Coisa boa esta, Fátima.
Eu lembro-me perfeitamente do cheiro da tinta, quando molhava o aparo da caneta,meia lata meio pau, e o medo que tinha do borrão na folha.
Que bem cheiravam essas letras!
;)
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