O homem sentou-se no centro do largo onde havia uma fonte. Na fonte, a água corria da boca de um sapo verde. Nos olhos do sapo cresciam azedas de um amarelo indiscreto. A fonte não estava no meio da praça, mas num vértice que a praça era quadrada e a fonte desenrolava-se em volta desse ponto.
Num dos outros cantos, havia um banco. Uma junção cuidada de metal em verde e, pintada de amarelo, uma madeira em ripas intervaladas de ar que lhe assentava, firme, segura de taxas pretas e alguma ferrugem.
Era um banco só na praça.
Além da fonte e do banco, havia, em cada um dos outros cantos, uma estrutura de metal balouçante, nua das tábuas. Pareciam cadáveres de outros bancos. Seriam.
Eram poucas as pessoas que se sentavam na praça depois da missa ou refrescando, nos dias de muito sol, na grande sombra da amoreira debruçada sobre esse único banco.
Quem sabe fora dessa sombra que sobraram as tábuas.
Sentado no centro deste largo, o homem não tinha parapeito de fonte, nem banco. Sentou-se no chão e a túnica branca era almofada pouca mesmo para um chão de pedrinhas batidas muito juntas por um maço, num tempo muito antigo e que, de sol a sol, de passo a passo, ficaram o que se diria um chão quase liso.
O homem era magro e tinha uma pele cor de café com leite que formava pregueados abaixo do queixo e torneados nos dois lados da face.
Ficou-lhe o cabelo, longo e solto, tamborilando a sombra das folhas da amoreira que, no ele se sentar, era a hora do sol escorregar por detrás do monte, para lá das casas de um só piso, cada uma debruada com barra amarela, verde, azul, só não havia vermelha.
Eram as casas da aldeia onde ficava o largo.
No banco, único, estava eu sentado.
Seis anos e é do que me lembro.
Um homem muito grande caminhando descalço, os cabelos ao vento que era brisa, mas me pareceu tempestade quando ele apareceu, a túnica branca arrastando no empedrado. Não olhou para mim, creio que nem me viu, mas eu escondi-me por detrás das costas do banco, agachado, o coração batendo, mas sem fazer negaças à curiosidade que era tão grande como o enorme medo.
Ele sentou-se de pernas cruzadas e nem eu sabia então que era sentar de Buda o que ele fazia. Colocou as mãos muito juntas e ergueu os braços como a minha avó quando clamava da vida. Ficou nesta posição um tempo tão enorme que me doeram as pernas encolhidas e devagarinho estiquei cada uma. E o coração a bater-me que parecia me saltava da blusa fininha e já esfriava naquela hora.
Eu via-o de costas, mas sabia que ele olhava a água da fonte e o sapo que a minha avó dizia ser uma princesa encantada que esperava o príncipe que a salvaria.
Num dos outros cantos, havia um banco. Uma junção cuidada de metal em verde e, pintada de amarelo, uma madeira em ripas intervaladas de ar que lhe assentava, firme, segura de taxas pretas e alguma ferrugem.
Era um banco só na praça.
Além da fonte e do banco, havia, em cada um dos outros cantos, uma estrutura de metal balouçante, nua das tábuas. Pareciam cadáveres de outros bancos. Seriam.
Eram poucas as pessoas que se sentavam na praça depois da missa ou refrescando, nos dias de muito sol, na grande sombra da amoreira debruçada sobre esse único banco.
Quem sabe fora dessa sombra que sobraram as tábuas.
Sentado no centro deste largo, o homem não tinha parapeito de fonte, nem banco. Sentou-se no chão e a túnica branca era almofada pouca mesmo para um chão de pedrinhas batidas muito juntas por um maço, num tempo muito antigo e que, de sol a sol, de passo a passo, ficaram o que se diria um chão quase liso.
O homem era magro e tinha uma pele cor de café com leite que formava pregueados abaixo do queixo e torneados nos dois lados da face.
Ficou-lhe o cabelo, longo e solto, tamborilando a sombra das folhas da amoreira que, no ele se sentar, era a hora do sol escorregar por detrás do monte, para lá das casas de um só piso, cada uma debruada com barra amarela, verde, azul, só não havia vermelha.
Eram as casas da aldeia onde ficava o largo.
No banco, único, estava eu sentado.
Seis anos e é do que me lembro.
Um homem muito grande caminhando descalço, os cabelos ao vento que era brisa, mas me pareceu tempestade quando ele apareceu, a túnica branca arrastando no empedrado. Não olhou para mim, creio que nem me viu, mas eu escondi-me por detrás das costas do banco, agachado, o coração batendo, mas sem fazer negaças à curiosidade que era tão grande como o enorme medo.
Ele sentou-se de pernas cruzadas e nem eu sabia então que era sentar de Buda o que ele fazia. Colocou as mãos muito juntas e ergueu os braços como a minha avó quando clamava da vida. Ficou nesta posição um tempo tão enorme que me doeram as pernas encolhidas e devagarinho estiquei cada uma. E o coração a bater-me que parecia me saltava da blusa fininha e já esfriava naquela hora.
Eu via-o de costas, mas sabia que ele olhava a água da fonte e o sapo que a minha avó dizia ser uma princesa encantada que esperava o príncipe que a salvaria.
Eu sabia, naquela tarde, encolhido atrás do único banco da praça, que ele era O principe. Que Ele beijaria o sapo e este seria princesa.
Eu iria ver a princesa de que a minha avó falava. Linda, vestida de noiva como na fotografia que havia lá em casa e que era a minha mãe antes de eu nascer.
Nunca me percebi porque vieram aqueles homens e aquele carro grande que levou o homem.
O meu príncipe agarrado por dois homens vestidos de branco.
Eu iria ver a princesa de que a minha avó falava. Linda, vestida de noiva como na fotografia que havia lá em casa e que era a minha mãe antes de eu nascer.
Nunca me percebi porque vieram aqueles homens e aquele carro grande que levou o homem.
O meu príncipe agarrado por dois homens vestidos de branco.
Seriam homens do palácio do príncipe?! mas pareciam homens maus porque ele resistiu a entrar no tal carro.
Levaram-no.
Ficou a água correndo na fonte, e as folhas da amoreira sombreando sem cabelos para tamborilarem.
Ficou a água correndo na fonte, e as folhas da amoreira sombreando sem cabelos para tamborilarem.
E sobrei eu sentado nas tábuas amarelas, balançando as pernas num choro que foi desgosto para toda a vida.
Nunca mais me sentei no banco.
Nunca mais fiquei no largo na hora de fim de tarde.
Só me passou o desgosto hoje que me sentei, eu, no meio do largo olhando a água da fonte e o sapo e erguendo as duas mãos como me lembro que ele fez naquela tarde.
3 comentários:
... sabes como são estas coisas. Um cidadão já não pode pedir ao céu que se concretizem os seus desejos, que tem logo a ramona à perna. E a camisa de forças...
Sempre me quis parecer que as princesas eram adeptas do Sporting...
Como manda a boa educação, agradeço a tua nomeação.
Óptimo 25 de Abril!
Escritora, continuas a surpreender-me.
Fabuloso conto, os detalhes pormenorizados o que me leva a pensar que és uma excelente observadora, e depois o final do Princípe senti à minha maneira, tudo o que é diferente, é maluco, é internado, não pode ser livre.
Adorei este conto, grande escritora:)
beijos
Encantam-me os contos ...
Vim aqui, des(encaminhada) pelo ARION
Gostei
Li
Vou passando ...
isabel do " Caderno ..."
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