Calçada de sapatos de forro azul, uma menina loura irrompeu na sala de Teatro. Era a apoteose e os actores desejosos de se desrouparem para mulheres e amantes, namoradas ou maridos, afadigavam-se em andar para trás e para diante olhando, de olhar vaso, a plateia em palmas estridentes, unissonantes.
A menina de sapatos forrados de veludo azul, entrou pela lateral e, de um salto, ficou no palco beijando cada actor que sorria com ar enternecido. E o público mais ensurdeceu de palmas a sala.
De pé, muito direita, a menina afastou o cordão de actores de mãos já deslargadas que o fez cada um para a abraçar. Ficou o palco alerta e silenciou a plateia. Sentaram-se os da frente e, um a um, ficou sentada a sala. Brilhava no palco o forro azul sobrando de dentro de cada um dos sapatos.
A menina que mal passava a altura da mesa que servira no acto final, observou a sala com um rodar lento de cabeça, deu um passo atrás, olhou de esquerda e de direita a fila dos actores, retomou o passo que dera com um gracioso trocar de pés e disse:
- Boa noite!
Disse-o de modo tão gracioso, com timbre tal na voz que a sala suspirou em um só exalar de uuu.
Quando o suspiro acabou no palco estavam, de mãos muito enlaçadas, os actores. Seis homens e mulheres olhando a plateia esquecidos do tempo que faltava para se retirarem para as mulheres, amantes, maridos, namoradas.
Ao outro dia, na abertura dos noticiários, fazendo primeira página de muitos jornais, vinha a fotografia de uns sapatos de onde sobrava um forro muito em azul de veludo. Diziam ter caído, alguém tinha mesmo visto, de um objecto que passou no céu a grande velocidade e desapareceu.
Quem estava no Teatro nessa noite, ficou calado perante cada notícia que viu, ouviu ou leu. Calado que os diriam loucos se contassem que eram os sapatos que calçava uma menina que apareceu no Teatro dizendo simplesmente, em voz de um timbre que era desigual dos outros: Boa noite!
De pé, muito direita, a menina afastou o cordão de actores de mãos já deslargadas que o fez cada um para a abraçar. Ficou o palco alerta e silenciou a plateia. Sentaram-se os da frente e, um a um, ficou sentada a sala. Brilhava no palco o forro azul sobrando de dentro de cada um dos sapatos.
A menina que mal passava a altura da mesa que servira no acto final, observou a sala com um rodar lento de cabeça, deu um passo atrás, olhou de esquerda e de direita a fila dos actores, retomou o passo que dera com um gracioso trocar de pés e disse:
- Boa noite!
Disse-o de modo tão gracioso, com timbre tal na voz que a sala suspirou em um só exalar de uuu.
Quando o suspiro acabou no palco estavam, de mãos muito enlaçadas, os actores. Seis homens e mulheres olhando a plateia esquecidos do tempo que faltava para se retirarem para as mulheres, amantes, maridos, namoradas.
Ao outro dia, na abertura dos noticiários, fazendo primeira página de muitos jornais, vinha a fotografia de uns sapatos de onde sobrava um forro muito em azul de veludo. Diziam ter caído, alguém tinha mesmo visto, de um objecto que passou no céu a grande velocidade e desapareceu.
Quem estava no Teatro nessa noite, ficou calado perante cada notícia que viu, ouviu ou leu. Calado que os diriam loucos se contassem que eram os sapatos que calçava uma menina que apareceu no Teatro dizendo simplesmente, em voz de um timbre que era desigual dos outros: Boa noite!
Diriam que eram loucos.
Formaram um clube. Reúnem-se de dois em dois meses. Confrontam sonhos e pesadelos desde a noite em que, bafejados ou malditos, foram escolhidos, ou apanhados nas malhas do acaso, por um ser que veio, sabem lá eles de onde, desejar-lhes simplesmente, boa noite.
Não, eu não estava no Teatro nem fui a reuniões do Clube.
Formaram um clube. Reúnem-se de dois em dois meses. Confrontam sonhos e pesadelos desde a noite em que, bafejados ou malditos, foram escolhidos, ou apanhados nas malhas do acaso, por um ser que veio, sabem lá eles de onde, desejar-lhes simplesmente, boa noite.
Não, eu não estava no Teatro nem fui a reuniões do Clube.
5 comentários:
percebo porque disse apenas Boa Noite, mas não percebo é porque carga de água os seres celestiais são sempre louros/as.
"cair em saco roto"? ora essa, eu escuto quem fala. quem eu sei que é capaz de dizer coisas, que tem coisas para dizer - já não me preocupo é, ouvir quem não reconheço possuir essas capacidades.
a minha escrita "é solta". BOA! fico satisfeito - embora continue a achá-la forçada/artificial (isto de se cultivar uma auto-estima low profile durante muitos anos tem os seus custos).
a menina loira será resultado de reflexo ditado pela cultura dos estereotipos judaico-cristãos-americanizados mas também admito que o demiurgo não as quisesse muito "espertas". [em defesa da opção e contra a "crítica" que escrevi acima, argumento: e o inverso não seria também uma visão preconceituosa (contra o estereotipo)?]
;D
Não percebo o que está a acontecer com os comentários neste blog, pura e simplesmente desaparecem. Tinha quase a certeza de já ter comentado, agora desapareceu oq ue acabei de escrever. Será mal meu?
Bom dizia eu que o segredo está no acreditar. Quem acredita é que consegue ver :)
Deixo um beijinho grande e o desejo de o resto de um bom Domingo
querida, a quantas anda?
Sei que sumi, muitas coisas aconteceram por aqui, estou a trabalhar e a estudar muito, o que por um lado é bom, mas por outro falta me tempo para mim :(
Não deixe de aparecer, estou com saudades.
Beijo
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