Retirou o fato e o camiseiro de algodão riscado e atirou-os para cima da cama. Foi-se despindo peça a peça. O dia estava quente e passara-o quase todo numa sessão de formação para funcionários da sua secção. Correra bem, mas como desejara o momento que ia iniciar. Ficou nua no quarto espaçoso, exposta aos raios de sol que ainda se espraiavam no quarto. Sentiu-se bela ao olhar o espelho. Com lentidão, numa expressão que, vendo, era de quem reza, retirou um pequeno estojo de cima da cómoda e dele uma tesoura. Abriu-a e colocou a ponta fina sobre a pele do braço. Fez força. Surgiu uma pequena reentrância . Sentiu o quente vermelho. Sentiu a dor. A dor sempre a mesma – subtil e intensa. Puxou a pele como se descolasse um adesivo. Em certas zonas puxava devagar, noutras dava impulsos descolando-a de vastas áreas. Um porção de tecido avermelhado mostrava a beleza remanescente ao cuidado protector da pele. A parte posterior de desroupagem seguia uma técnica laboriosa que sua mãe lhe ensinara e que ela praticava, pelo menos, duas a três vezes por ano.
Olhou-se no espelho. Sorriu.
Gostava de sentir que estava mais verdadeira sem a pele de todos os dias. Gostava de sentir que seria assim reconhecida. Reconhecida pela voz, pelo riso e as lágrimas. Pelo olhar. Reconhecida no cabelo, nas mãos, na zona púbica, ou no torneado dos pés,zonas que se proibia de desroupagem
Desfez o cabelo muito negro e prendeu-o num carrapito bem no alto da cabeça.
Com todo o cuidado, foi compondo pelo corpo tiras de gaze que tingira de rosa.
Colocou nos pés umas chinelinhas de seda rosada salpicada de lantejolas.
Cada uma das mãos calçou-a com luvas de renda muito branca. Na mão direita colocou sobre a luva um vistoso anel. Volteou frente ao espelho. Gostou de se ver.
Esperou que a noite se desenrolasse e saíu para o quente da noite iluminada do cheio da lua.
Eram dezenas de homens e mulheres dançando os corpos cuidadosamente desroupados.
Olhou-se no espelho. Sorriu.
Gostava de sentir que estava mais verdadeira sem a pele de todos os dias. Gostava de sentir que seria assim reconhecida. Reconhecida pela voz, pelo riso e as lágrimas. Pelo olhar. Reconhecida no cabelo, nas mãos, na zona púbica, ou no torneado dos pés,zonas que se proibia de desroupagem
Desfez o cabelo muito negro e prendeu-o num carrapito bem no alto da cabeça.
Com todo o cuidado, foi compondo pelo corpo tiras de gaze que tingira de rosa.
Colocou nos pés umas chinelinhas de seda rosada salpicada de lantejolas.
Cada uma das mãos calçou-a com luvas de renda muito branca. Na mão direita colocou sobre a luva um vistoso anel. Volteou frente ao espelho. Gostou de se ver.
Esperou que a noite se desenrolasse e saíu para o quente da noite iluminada do cheio da lua.
Eram dezenas de homens e mulheres dançando os corpos cuidadosamente desroupados.
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Dizem que voltava cada ao seu trabalho ainda desroupado por debaixo do fato.
Dizem que são histórias. Nada mais que histórias...
6 comentários:
... podem muito bem ser histórias mas uma coisa é certa; eu não me importava nadinha de ter assinado esta, escrita com letras em " carne viva trabalhadas" .
Parabéns e... um óptimo fim de semana!
Boqueaberta! Um texto surreal e imagem extraordinária! beijos
Viva,
Este quadro tem uma construção que parece tão simples...mas, não o é!Tal como todos os quadros talvez... por mais simples que sejam... tanta equação cromática passou em silêncio... aos olhos de quem os vê!
Sem a pele de todos os dias, sentiu-se nova, despudorada. No quente da noite, misturou-se na realidade renovada de seres sem máscara, onde a ilusão cabe noutras ilusões, noutras realidades…
Embriagador o relato... estou sem fala...
... já lá tens as laranjas. Lê o texto com atenção...
Ao resto respondo-te lá no post, na altura devida... ou de morte. (ehehehe)
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