Ias no teu passo lesto. Mais lesto nessa manhã por duas razões. O receio que o atentado, por mais que te insurgisses contra ti mesmo, te havia deixado. Teres combinado estar cedo junto à saída do metro. A namorada esperava-te para irem ver a casa que pensavam comprar. Pensavas nela quando ouviste o metro a chegar à estação quase vazia. Ao mesmo tempo, sentiste correria, vozes que chamavam. Um ruído de vozes muito contundentes. E tu a correr para o metro com o teu tempo de fazer vida, de fazer futuro. E tu sempre a correr e as vozes cada vez mais perto e cada vez mais a chamar com ar contundente. E tu a correr e a tentar perceber. E o tempo que corrias era o mesmo tempo de ver que era polícia, de perceber que era a ti que seguiam. O mesmo tempo de separares cada perceber do outro. O mesmo tempo de colocar cada perceber numa ordem de prioridades. Colocar a ênfase no perceber inicial. O que primeiro te acudiu. O de sentires que a polícia estar a perseguir alguém podia ser indício de outro atentado. E o terror a revirar-te as tripas a toldar-te o raciocínio. E tu a correr para o metro que era o apelo racional mais forte. E neste tempo, os polícias em cima de ti e tu ainda sem uma organização de perceber. E o tempo terminou com o medo a transparecer-te nos olhos. Um medo que ninguém viu. Quem te agarrava apenas via o seu medo reflectido, transparente, nos teus esbugalhados olhos.
10 comentários:
como captaste be o sentir possível de ambos os lados e a injustiça k o medo criou. Bj grande, amiga e bom domingo
Babel, parte dois...
Não sei se alguém alguma vez disse que toda a guerra é justa pela sua injustiça. Se ninguém disse, digo eu agora. Que também tenho cabeça e odeio qualquer tipo de guerra ou violência
Mas o seu medo reflectido na nuca tombada do inocente, só apaziguou com o calor do sangue escorrendo por cinco orifícios…
blogquisto
Extraordinário o teu texto, sobre o que a vítima deve ter sentido. Mais um lamentável engano nesta estúpida guerra. beijos
O medo é apenas uma face da escuridão.
Do medo nasceu a morte e da morte ficou a dor. Quando chegar o tempo que todas a vidas são superiores a qualquer guerra a paz será uma certeza no mundo inteiro. Convido-te a visitares o meu blog, para ajudar-me a apagar as velas o meu blog faz 1 ano.Parabéns pelo teu.
O destino é sempre inexorável. E eu pergunto: será mesmo destino? Seria o que lhe estava destinado?
Xi
"o teu tempo de fazer vida, de fazer futuro"
"O mesmo tempo de separares cada perceber do outro"
Duas pérolas narrativas!!! Que maravilha!
(prefiro cingir-me ao texto. sobre a mensagem toda a gente se pronunciou, e eu concordo)
(Não sei alguém alguma vez disse ao Alexandre Sousa, mas, se não disse, digo eu agora: A foto está muito tremida!...)
;)
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