Sempre soube que os homens voam. Mais. Sempre soube que cada um pode afastar-se de si mesmo. Ir para bem longe de si. Ir e ficar. Sentado na reunião, na mesa do café, no auto-carro. Ir e ficar. De pé, afastando o cortinado do banho, calcando areia na praia, chapinhando lama. Simplesmente, de pé ou sentado, por um ror, outro, de tantas coisas. Ir para muito longe de aqui como que voando. Pode acontecer a cada uma de todas as pessoas. Eu sempre soube. Chamavam-me, por isso, tolo. Tolo. Doido. Louco. Assim, atravessei meia vida (que Deus ma dei!). Hoje, fiquei cansado de afirmar ou retorquir aos que desacreditadamente encaram este meu saber de estar, e não estar ali. Que me chamem o que me chamem nunca me incomodou. O que me entristece é que não sintam como eu este saber. Ou desatentam dele, não o confessam?!
Um destes dias, andava eu devagarinho a passear no cais. Era em dia de sueste. As ondas espanejavam a falésia. As rochas, de momento a momento, ficavam mulher de veste branca, ou monge, ou padre. Andava eu devagarinho sentindo o espargir da água no ar a cada onda esfarrapada no molhe. O ar sabia a sal. A pele estalava. Era o final da tarde e mais se acentuava este tardio do dia naquele de Agosto com a neblina que acompanhava o sueste.
Foi num destes dias que encontrei sentado no molhe um rapazito dos seus oito anos. Sentado no paredão, apreciava o sentir da onda que se espraiava no molhe. Parei a olhá-lo. Senti uma enorme serenidade olhando-o. Aproximei-me. Junto dele e nem deu por mim. Sorria. Sentei-me a seu lado. Fiquei olhando-o. Restos de ondas molhavam-nos. Em dado momento, o rapazito moveu-se. Olhou para mim e riu. Mais do que isso falou:
- Quando te sentaste aí? Não dei por ti.
Respondi:
- Estavas tão concentrado na tua brincadeira. Fiquei a ver-te. Preferi brincar também.
Numa expressão de quem quer desfazer com firmeza um mal entendido. Numa expressão de quem olha para muito longe. Num misto de expressões para além de nós, o rapazito disse:
- Eu estava voando. Eu não estava aqui. Aproximei-me de mim quando te senti. Sabes como é?!
- Sei, sim – disse eu, sorrindo.
E ficamos ali sentados apanhando os restos de cada onda de um sueste em maré vazante num fim de tarde de Agosto, um dia destes.
Um dia destes depois de eu ter ficado cansado de afirmar ou retorquir aos que desacreditadamente encaram este meu saber. O homem pode voar. Afastar-se de si para muito longe.
Um destes dias, andava eu devagarinho a passear no cais. Era em dia de sueste. As ondas espanejavam a falésia. As rochas, de momento a momento, ficavam mulher de veste branca, ou monge, ou padre. Andava eu devagarinho sentindo o espargir da água no ar a cada onda esfarrapada no molhe. O ar sabia a sal. A pele estalava. Era o final da tarde e mais se acentuava este tardio do dia naquele de Agosto com a neblina que acompanhava o sueste.
Foi num destes dias que encontrei sentado no molhe um rapazito dos seus oito anos. Sentado no paredão, apreciava o sentir da onda que se espraiava no molhe. Parei a olhá-lo. Senti uma enorme serenidade olhando-o. Aproximei-me. Junto dele e nem deu por mim. Sorria. Sentei-me a seu lado. Fiquei olhando-o. Restos de ondas molhavam-nos. Em dado momento, o rapazito moveu-se. Olhou para mim e riu. Mais do que isso falou:
- Quando te sentaste aí? Não dei por ti.
Respondi:
- Estavas tão concentrado na tua brincadeira. Fiquei a ver-te. Preferi brincar também.
Numa expressão de quem quer desfazer com firmeza um mal entendido. Numa expressão de quem olha para muito longe. Num misto de expressões para além de nós, o rapazito disse:
- Eu estava voando. Eu não estava aqui. Aproximei-me de mim quando te senti. Sabes como é?!
- Sei, sim – disse eu, sorrindo.
E ficamos ali sentados apanhando os restos de cada onda de um sueste em maré vazante num fim de tarde de Agosto, um dia destes.
Um dia destes depois de eu ter ficado cansado de afirmar ou retorquir aos que desacreditadamente encaram este meu saber. O homem pode voar. Afastar-se de si para muito longe.
6 comentários:
Belo post! Podemos sempre voar, é só querer:) beijos
Hoje apetece-me contar-te uma anedota (vá lá saber-se porquê)!...
Dois amigos, após uma longa caminhada, sentaram-se, à sombra duma árvore, a descansar. Aperceberam-se, então, que a única coisa que tinham para comer era um naco de pão, o qual, dividido em dois, não mataria a fome a nenhum. Como tal, decidiram dormir e, quando acordassem, o que tivesse sonhado o sonho mais bonito comia o pão. Assim fizeram.
Algum tempo depois, ao acordarem, um deles conta "eu sonhei que podia voar, voava cada vez mais alto e via o mundo todo, lá de cima, e era tudo tão bonito..." Ao que o outro lhe respondeu "pois eu vi-te voar lá tão alto, tão alto, tão feliz, que pensei que já não voltavas e comi o pão todo!..."
(Não tem nada a ver com nada, histórias do tempo das vacas magras, claro!...)
É. Temos sempre essa possibilidade boa de voar. E acho que o deveríamos fazer com frequência :-9
Obrigado, Amiga :-)
Será que consiguirei voar? Será que algum dia consegui?
Muito bom o post...
Tenha um ótimo final de semana.
E vê se aparece... SAUDADES!
Ó minha linda Seilá
Estou aqui toda embaçada
Roubei as sandes na Sota
Vinha dizer-te obrigada
Agora por com licença
Estes versos vou conter
Tenho a leitura atrasada
Por isso paro pra ler
Que bem que me soube essa tua sabedoria. Só não comento mais longo que tenho medo de me esparramar em rimas e o momento é de calmia. Mas que bem que me sabia...
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