Estive a ouvir no meu velho vinilOuvi tudo e voltei a ouvir . Aqui deixo a segunda parte do texto que, depois de uma busca Google, retirei daqui Obrigada UNO
Segunda Parte
Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe. Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...
Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de lava-colhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.
Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.************************************e ainda estive pensando e lendo sobre essa coisa obscura da pobreza e dos pedintes a propósito do texto de hoje da Blueshell
fica aqui um sinal
domingo, 14 de novembro de 2004
mais que nostalgia...mais...
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adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência
ABRIL DE 2008
Abril de 2009
dizia ele
"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein
Einstein
4 comentários:
Ze Mario Branco= Saudades...
Foto : grande tristeza...
Beijinho*/Lina Acordomar
José Mário Branco é um sempre, para mim. FMI, obra quase maldita neste país de m.... ou m.... de país, consoante escolheres. Fundamental. Escolheste bem, amiga. Beijos.
:)
M...
...imperdoavel não te ter deixado em tempo oportuno um commente neste teu post porque "eu estive lá" e as marcas ficaram para sempre. É sempre bom recordar os caminhos que nos trouxeram até ao presente; um presente algo diferente do imaginado então. Mas nada lamento (até o presente imagina!) porque ficaram as letras das canções; SEMPRE!!
Intés!
NOTA: No lançamento do novo trabalho do Zé Mário, em entrevista na TV, emocionei-me; estava a rever o jovem idealista, olhar inteligente e o breve sotaque do norte que nunca lhe desapareceu. Voltei atrás no tempo e...foi muito bom.
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