recordares...
Almada Negreiros...O Nome de Guerra... Maternidade...
esboços do antes de ser...desenhos...
cópias enchendo paredes...eles pequeninos...eu...
os outros...os desenhos...os nomes...as palavras....
aconteceres sempre...
Maternidade de Almada Negreiros
Cada um tem o destino universal de fazer consigo mesmo o modelo de mais um estátua humana. E esta fabrica-se apenas com íntimo pessoal.
O nosso íntimo pessoal é inatingível por outrem. E é este o fundamento de toda a humanidade, de toda a Arte e de toda a Religião.
in Nome de guerra de Almada Negreiros
Cap II A sociedade só tem que ver com todos não tem nada que cheirar com cada um
12 comentários:
Que este domingo, chuvoso (outra vez...mas é a fruta do tempo) te corra de feição, e que "esta" te vá encontrar de saúde, são os meus votos mais sinceros. Era mais ou menos assim que se iniciavam as missivas no tempo em que as galinhas "tinham dentes" que não foi assim à tanto tempo como isso. Pois se eu ainda sou desse tempo...Ao invés, não sou do tempo em que os "animais falavam", disso podes ter a certeza;...os animais irracionais, frise-se.Poderás aqui questionar-te: «mas o porquinho não é um animal irracional?!». Se eu estivesse pró diálogo responderia que «o porquinho da india, não é "carne nem é peixe"» o que revelaria o meu bom senso e cuidado habituais para não ser confundido com nenhuma das classes e assim "passear" incólume no meio das duas (classes), percebes?
Do Almada quem não gosta?!
Beijinhos e intés!!
Hoje levas-nos até Almada Negreiros. Maravilhosa "Maternidade" ! E fez-me bem lembrar "Nome de guerra". Tenho que o reler, rápido, rápido. beijinhos. Bom fim de semana.
Sempre gostei! Bjs
Genial post:) bjs*
A sociedade tem que ver com todos mas cada um tem o destino universal de fazer consigo mesmo o modelo de mais uma estátua humana. Não é só o colectivo que interessa. Cada um tem direito ao seu individualismo. Beijinhos.
O nosso íntimo pessoal é intangível, muitas vezes (demasiadas vezes), por nós próprios! A socialização criou estas dicotomias e é suposto termos um eu superficial e espontâneo no cumprimento das normas (e das expectativas da interacção com os outros) e um eu íntimo que se diz, normalmente, obscuro e profundo. Não sei (sei lá!) se é por causa disso que a arte existe ou se a razão está na morte (parafraseando outro gostaria que a arte fosse justificada pela vida, e não como interrogação da morte). Willnow.
E a paternidade?
desculpa-me o abuso e de te oucuar este espaço, mas ao re-olhar a maternidade, saltou-me no olhar um texto que escrevi a olhá-lo (o quadro). Almada sem o querer foi-me desenhando os caminhos do meu olhar, saiu assim a minha maternidade:
Pegaram na minha mão ao de leve e disseram-me, “ vem, vem viajar…”
Fui. (também quem recusa viajar, quando a mão que nos leva é a da nossa mãe?) Apertei a mão e fui, com a alegria de ter todos os sentidos transformados em olhar.
Parámos em terras onde os rios se cruzam e seguem juntos, para mais além se envolverem noutro maior, como quem dá as mãos para ir viajar…
Imagino um vale de arroz, de tons verdes, de terras quentes.
Sentamo-nos a ouvir os rios que se segredam em música. (quando se viaja pela mão da nossa mãe, é obrigatório imaginar coisas e contar histórias com os olhos a pintar cores e lugares. Este cenário por exemplo, nos olhos da minha mãe ainda só tinha um rio, se bem que o outro corria mais à frente, onde esta viagem na verdade nunca aconteceu, a não ser muitos anos mais tarde, quando os olhares já eram outros, mas as cores essas, Deus meu, eram as mesmas.
Já não sei quem conta a história, se eu, se a minha mãe. Eu sou capaz de afirmar de pés juntos e solenemente que quem a conta é o rio, em segredos murmurados e incontidos que se escapam em sons de flauta, que se transforma em brisa e ondula o arroz que ainda é espiga.)
Na paisagem (que já todos perceberam, se movimenta em bailado) em tons de girassol, cresce um circo. Tenda gigante de um só mastro, que não navega mas saltimbanca.
Vi perfeitamente o mastro a içar, como Nau que ergue a vela ao som de marinheiros.
Em artes de ilusionista entra em cena Saltimbanco louco, saltimbanco roto, que nunca ouviu falar de Pierrot e muito menos de Arlequim.
A criança, que era minha mãe, continuou a viagem com o menino por sua mão, neste palco onde o actor se comove com as cores e se perde em si mesmo, e do tempo, e do espaço, e já não sabe, ou não quer saber, que olhos viram a cena, se os seus, se o do saltimbanco, que apesar de roto e triste faziam rir a menina, apesar de tímida e quase submissa, onde só em sonhos se transformava em leão feiticeiro, em terras de OZ.
(Já não sei se estou a contar uma história se estou a viajar, é tempo e lugar de por um ponto de ordem na narrativa, não vá o leitor desatento julgar que afinal não há história nenhuma.) Vimos também que o saltimbanco influenciou o imaginário da menina, que o já não é e a mim próprio, porque estou sempre a desenhar saltimbancos e também já o não sou (menino, claro). Já vimos que ao lado do saltimbanco (não vimos nada, mas é uma forma de continuar a história), apareceu uma menina de olhos verdes, tristes, porém sonhadores que se imaginava mil e uma coisas, mas naquele momento era ainda só personagem da sua própria vida, senhora das suas lágrimas e que só mais tarde seriam falsas, quando em espaços outros, onde o esplendor das luzes, é muito diferente das cores do cenário desta história, ouviu senhora idosa em sons de aplausos, e sentimento nas veias, afirmar “ … as árvores morrem de pé.” (este contador de histórias é muito complicado, qual era o problema de dizer, assim de rajada, que a menina que assistia o saltimbanco sonhava em ser actriz e que já era senhora de uma enorme imaginação? Mas não, arma-se em erudito e é no que dá).
O menino hoje não sabe ao certo como acabou esta história, até porque recorda fotografia antiga, de sua tia, menina, vestida em artes de teatro, naturalmente para uma festa da escola em terras onde lá mais à frente os rios se cruzam, e regam o arroz, e dão vida aos girassóis. Sabe também que a mão que o levou a viajar, é mão tímida porém sonhadora o que torna o final imprevisível. Mas como fomos todos crianças, não é difícil perceber, que a vida tem esta magia de dotar de vontade e de crer aqueles que tem a arte de não se ficarem pelos sonhos e serem o próprio sonho, que alimenta uma cadeia infindável de novos sonhadores, de novos lutadores, sejam eles saltimbancos, poetas ou actores, donde se conclui, que a menina pisa hoje aplausos, e que a outra, escondida em sonhos, imaginou-se um dia menos tímida a declamar afectos e a fazer poesia em histórias que contava à noite a meninos que vezes sem conta se esqueceram dos aplausos e no final apenas pediam, “apaga luz, mamã…”
este post desperta em mim aquilo que melhor sei e sou na vida!Um abraço por isso
Tantas referências gratas, mágicas...O texto, o excerto do "Nome de Guerra" (sem dúvida o livro que mais me marcou até aos 20 anos), a imagem, que belíssima ode à vida!
Dora
www.atrasdaporta.blogs.sapo.pt.
Não te tenho comentado mas tenho-te lido... Demasiado avassaladora... e eu nem sempre estou à altura... :)
M...
"este post desperta em mim aquilo que melhor sei e sou na vida!Um abraço por isso"<--- isto fui eu que escrevi :-) esqueci me de assinar. Myryan
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