sexta-feira, 24 de setembro de 2004

Pó de estrelas?!...

Aqui me encontro pasmada, com todo o meu eu chorando e nem me entendo o foco deste sentir. É algo que vem de muito lá do fundo de mim e lá de muito de toda a parte deste mundo. É como um sufoco, como se este ar quente estivesse carregado de imperceptíveis tristezas, dores, dislates de consciências, loucuras, insanidades, pobrezas...tantas pobrezas! Tanta pobreza! Este silêncio ensurdecedor que se solta dos noticiários e se escorre da tinta dos jornais . Estas caras que não olham, estes olhos sem vista, estes olhos (tantos pares de olhos) taipados , velados de um algo que não sei explicar, mas que me aumenta esta forma estranha de sentir que sendo tristeza é muito mais e muito diferente de estar triste. É também diferente de raiva, de revolta, de ódio que não sei nunca o senti - qualquer deles é impulso, é forte, é dirigido. Este sentir que sinto é estranho porque, redigo, não tem alvo nem nome lhe sei dar...apenas o mais próximo... esse de tristeza. Que mundo que gente que instituições que governos que éticas que religiões que morais que sentires que desejos que vontades que relações...meu deus que mundo é este? Que se passa? Que sinto eu atravessar-me cada partícula? Onde me encontro? Como me encontro que este estado de sentir me não permite julgar, colocar-me de um dos lados? Vejo a mãe o pai a criança o torturado o torturador o soldado o civil o bombista o drogado o pedinte a prostituta o violado o violador o ladrão o assaltado e...esta tristeza mescla-se com todos eles. Vejo a mãe do soldado morto e a mãe do que o matou e oiço e sinto-lhes um mesmo choro uma dor igual. A mãe que assassinou o pai que teima em não dizer do paradeiro da filha...vejo-lhes os olhos vácuos desbrilhados ... taipados...deus parecem-me robots e não lhes tenho raiva nem ódio nem mais que este sentir de uma tristeza que outro nome lhe não sei, já disse, dar. E vejo as gentes reagir, enraivecer, querer linchar e neles também olhos brilhando tanto que se me mostram, eles também, taipados. Parece que o ar se esvaziou de alguma substância essencial e cada um respira arfando uma matéria imprópria para humano ser. Que seres são estes? Que somos nós? Que mundo é este? Que mudanças se estão operando...ou não estão?!


(parei aqui porque me apelaram vozes, encantadoras vozes de gente que se busca, se quer crescer e sente as dores que isso dá e sente medo e anda de alma solta neste mar de almas presas, buscando-se; com elas, as vozes deles, me quedei horas que nem senti passando; e, sem que lhes visse, os olhos sei que estavam destaipados, brilhando apesar das dores, apesar das buscas que se estão, cada um, fazendo. Nessas vozes que me buscaram por um daqueles acasos que a vida nos coloca a cada instante e a gente tantas vezes desapercebe, nelas, minha tal acima descrita, mal percebida e portanto mal descrita, tristeza, se espaireceu...um pouco...)


Escrevi isto ontem à noitinha e o entre parêntesis agora. E estou lembrando o que li no sefaxavor....é assim que acho que estive naquela tristeza que não consegui explicar e depois na conversa linda com dois seres que amo muito...bombardeada e embebida num pó de estrelas!

16 comentários:

Anónimo disse...

Muita dor, muita tristeza, neste teu post minha amiga. Mas, no fim, aquele sorriso de felicidade banhado em pó de estrelas :) haja esperança! Beijinhos amiga.

Anónimo disse...

Quanta sensibilidade, miúda!...
Felizmente há estrelas... :)

Fátima Santos disse...

Oh! por favor senhora anónima (ou senhor?!:)) identifique-se que eu gosto de retribuir..pleaaaseeee!!Mesmo assim, um kiss.

Anónimo disse...

Para não ficares triste, deixei os meus prantos noutras bandas e aqui vim, neste intervalo, deixar um beijinho. Quem é este anónimo? O Inde, claro!...

Anónimo disse...

Os primeiros olhares que descreveste são olhares de nada! Os segundos de esperança:) bjs* wind

lique disse...

Muita sensibilidade e tristeza neste teu post, amiga! Entendo bem quando dizes "Como me encontro que este estado de sentir me não permite julgar, colocar-me de um dos lados?" Tenho sentido isso muitas vezes ultimamente. Felizmente tu encontras a esperança no amor por outras pessoas. É sempre a amizade e o amor que nos abrem alguma luz nestes dias. Beijinhos

bertus disse...

...mas...porquê esse pasmo, esse choro, esse sentir? Ó jovem poeta vamos lá a arribar que as coisas não estão tão mal como parecem: estão piores! Mas não é a partir das maiores tormentas, quantas das vezes até dos escombros que o homem se levanta e opera milagres?
Mais um fim de semana começa agora. Tempo de tirar os olhos da pantalha e ver um bom filme, esquecer as páginas do Expresso e ler (ou reler) um livro, visitar uma exposição, dar um passeio a pé no areal da Caparica ao entardecer ou apenas descansar o olhar para além do horizonte, sentado na esplanada de um café a partir de um ponto alto da cidade de Lisboa. Temos de oferecer a nós próprios estes momentos, raros, de repouso sob pena de, pelo cansaço, já não conseguirmos destinguir onde se inicia a verdade e acaba a mentira desta vidinha que os vendilhões do templo são exímios nestas práticas.
Depois, na segunda -feira, voltaremos à realidade de olhos limpos e escreveremos palavras de repúdio quando necessário, mas também de esperança.
O registo deste comment escapa um pedaço ao meu habitual mas o teu poético texto não se prestava à ironia. Tem um bom fim de semana...e inté!

NOTA: As referências a Lisboa e arredores são apenas exemplos; que este país tem muito para ver por dentro. E o Expresso pode ser substituido por outro semanário...

Sefaxavor disse...

E é mesmo quando a tristeza se quer instalar e a esperança quer sair de fininho que se vê a força do pó de estrelas, "sacudido" sobre nós por alguém ou algo que faz a vida valer a pena. Beijinhos e obrigada pela referência ao meu textito.

Anónimo disse...

Comecei o dia lendo o teu texto e compreendi, sim. Percebi o que sentiste. Vivemos numa espécie de ebulição interior, uma insatisfação sem dono. Buscamos, buscamos e nem sempre nos damos conta que a paz tem de vir e nós, emnar de dentro para fora, porque nunca este mundo assim feito nos poderá trazê-la... Aprecio muito estas tuas reflexões, Seila. Passo e comento raramente, mas vale sempre a pena. Procuro passar o mínimo de tempo posível frente ao Pc, por opção. Mas reconheço que isso me faz perder textos muito bons. Um bom Sábado para ti e beijinho.

deSaraComAmor

Poemas de Trazer por casa e... outras histórias.

saltapocinhas disse...

Há dias assim!
De raiva, impotência, vontade de mudar o mundo ou não fazer nada e deixá-lo destruir-se...
O que vale é quie depois passa e volta tudo à "normalidade"

Manuela Neves disse...

Olá! BFS... Deixo-te uma lindo POEMA de FLORBELA ESPANCA ***

ANSEIOS

Meu doido coração aonde vais,
No teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade;
Meu pobre coração olha que cais!

Deixa-te estar quietinho! Não amais
A doce quietação da soledade?
Tuas lindas quimeras irreais,
Não valem o prazer duma saudade!

Tu chamas ao meu seio, negra prisão!
Ai, vê lá bem, ó doido coração,
Não te deslumbre o brilho do luar!...

Não estendas tuas asas para o longe...
Deixa-te estar quietinho, triste monge,
Na paz da tua cela, a soluçar...

almaro disse...

Queria dizer uma só palavra, mas fugiu-me ao encontro da tua angústia. Perdi a palavra que se cruzava com o teu sentir. O teu e o meu. O meu sei-o, o teu adivinho. Quando me perco, no desencontro da humanidade sinto-me a morrer numa fusão com todos aqueles que abafam o desespero em gritos surdos sem esperança. Depois para afastar esta sensação dúbia entre a angústia e a tristeza de me sentir impotente, agarro em raiva nas cores e esbato-as em sentimento, vezes várias com palavras, outras com tintas, ou lágrimas. Gostava de não fugir desta forma, mas prendo-me nos passos e fundo-me na multidão. Sou um inconsequente...

perplexo disse...

Muito bem. Beijo.

Anónimo disse...

O que irá dentro das pessoas que as fazem ser como são? Ou melhor, terem as atitudes que têm? O que as levará a fazê-lo? Nestes últimos dias tenho pensado muito nisso. Será só sofrimento? É que qualquer animal protege a sua cria...

Anónimo disse...

Errata: Deve ler-se 'faz' em vez de 'fazem'.

inconformada disse...

És tão bonita :-)
(beijo cheio de saudades)

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

desafio dos escritores
meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

ABRIL DE 2008
meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

Abril de 2009

Abril de 2009
ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein