Contamos os choros. As lágrimas. Os ranhos. Os gritos. Os ais que um dia demos. Contamos, até, o modo como, com os olhos toldados de choros repetidos, reparamos, espantados de estar conseguindo, no vestido da comadre Josefa todo descosido nas costuras do lado esquerdo, ou como o cabeção verde do senhor padre tinha uma nódoa castanha numa das extremidades.
Contamos esse quase tudo como se nos tivesse sido dado num sonho, num pesadelo dos que não permitem que ergamos a cabeça de debaixo dos cobertores.
Mas não contamos a dor.
Não sabemos.
Não nos foram doadas as ferramentas com que traduzamos em palavras, ou de outro modo, a dor que temos ou a que um dia tivemos.
1 comentário:
Verdade!
Beijos
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