domingo, 10 de março de 2019

passos de palco


a gente pode enlouquecer de excesso
perder a razão por não saber o que fazer do que sobra
                                                                          e é tanto

do que fica por dizer depois de já ter dito
do que sobeja, aqui, e ali está faltando
do que escorre a pingar nas entrelinhas

séculos e mais séculos
gerações e outras gerações

tanta gente
tantos humores
tantos credos
tantas manhãs enevoadas e noites de lua cheia
tantos filhos e criados e namoros
e vestidos franzidos
e saias de riscas e casacos de quadrados
e cadelas cobertas por cães vadios
e gatas parindo
e a gente a gritar por socorro em caves escuras

tantos pesadelos mantidos em segredo
poços e guerras e camiões caídos
e gado
tanto gado morto
e vento
e tanto mar bramindo

a gente a seguir a linha do tempo
a gente a perceber esse ir passando de um a outro até ao mister de sermos, hoje, como nos vemos
apegados às coisas ou descuidados
tão loiros ou tão tisnados…
ou tão detestando alface…

podemos, sim, ensandecer de excesso
a qualquer instante,
em qualquer idade

como se a gente estivesse sempre a pisar um palco e cada tábua rangesse, muito baixo, a dardejar do que somos e é muito mais do que o passo que damos a querermos que seja elegante e leve…


3 comentários:

wind disse...

OMG! Como isso é verdade!
Repito-me, escreves o que sinto:)
Beijos

Maré Viva disse...

Diferente e única em tudo o que escreve!

Fátima Santos disse...

mas quem est/a Maré Viva, senhores? :)

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

desafio dos escritores
meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

ABRIL DE 2008
meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

Abril de 2009

Abril de 2009
ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein