a gente pode enlouquecer de
excesso
perder a razão por não saber
o que fazer do que sobra
e é tanto
e é tanto
do que fica por dizer depois
de já ter dito
do que sobeja, aqui, e ali está
faltando
do que escorre a pingar nas
entrelinhas
séculos e mais séculos
gerações e outras gerações
tanta gente
tantos humores
tantos credos
tantas manhãs enevoadas e
noites de lua cheia
tantos filhos e criados e
namoros
e vestidos franzidos
e saias de riscas e casacos
de quadrados
e cadelas cobertas por cães
vadios
e gatas parindo
e a gente a gritar por
socorro em caves escuras
tantos pesadelos mantidos em
segredo
poços e guerras e camiões
caídos
e gado
tanto gado morto
e vento
e tanto mar bramindo
a gente a seguir a linha do tempo
a gente a perceber esse ir
passando de um a outro até ao mister de sermos, hoje, como nos vemos
apegados
às coisas ou descuidados
tão loiros ou tão tisnados…
ou tão detestando alface…
podemos, sim, ensandecer de
excesso
a qualquer instante,
em qualquer idade
como se a gente estivesse sempre
a pisar um palco e cada tábua rangesse, muito baixo, a dardejar do que somos e é
muito mais do que o passo que damos a querermos que seja elegante e leve…
3 comentários:
OMG! Como isso é verdade!
Repito-me, escreves o que sinto:)
Beijos
Diferente e única em tudo o que escreve!
mas quem est/a Maré Viva, senhores? :)
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