quinta-feira, 6 de setembro de 2018

tempos sombrios

não sou leitora do Expresso, mas aconteceu dar com um dos seus cadernos, este fim de semana e nele uma crónica de José Tolentino de Mendonça no espaço Que coisa são as nuvens
Li e reli
e fui em busca do poema de Brecht, que é, na crónica, referência para uma reflexão serena (se é possível, se é sobretudo desejável) sobre os "tempos sombrios"
Aqui deixo o poema
( a crónica, claro que aconselho)


Aos que virão depois de nós 
Eu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de estupidez, 
Uma testa sem rugas é sinal de indiferença. 
Aquele que ainda ri é porque ainda não recebeu a terrível notícia.

Que tempos são esses, 
Quando falar sobre flores é quase um crime. 
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça? 
Aquele que cruza tranqüilamente a rua
Já está então inacessível aos amigos
Que se encontram necessitados?

É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.
Mas acreditem: é por acaso. Nada do que eu faço
Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
Por acaso estou sendo poupado. 
(Se a minha sorte me deixa estou perdido!)

Dizem-me: come e bebe! 
Fica feliz por teres o que tens! 
Mas como é que posso comer e beber, 
Se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome? 
Se o copo de água que eu bebo, faz falta a quem tem sede? 
Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.

Eu queria ser um sábio.
Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria: 
Manter-se afastado dos problemas do mundo
E sem medo passar o tempo que se tem para viver na terra; 
Seguir seu caminho sem violência,
Pagar o mal com o bem,
Não satisfazer os desejos, mas esquecê-los. 
Sabedoria é isso! 
Mas eu não consigo agir assim. 
É verdade, eu vivo em tempos sombrios!

II

Eu vim para a cidade no tempo da desordem, 
Quando a fome reinava. 
Eu vim para o convívio dos homens no tempo da revolta
E me revoltei ao lado deles. 
Assim se passou o tempo
Que me foi dado viver sobre a terra. 
Eu comi o meu pão no meio das batalhas, 
Deitei-me entre os assassinos para dormir, 
Fiz amor sem muita atenção
E não tive paciência com a natureza. 
Assim se passou o tempo
Que me foi dado viver sobre a terra.

III

Vocês, que vão emergir das ondas
Em que nós perecemos, pensem, 
Quando falarem das nossas fraquezas, 
Nos tempos sombrios
De que vocês tiveram a sorte de escapar.

Nós existíamos através da luta de classes, 
Mudando mais seguidamente de países que de sapatos, desesperados! 
Quando só havia injustiça e não havia revolta.

Nós sabemos: 
O ódio contra a baixeza
Também endurece os rostos! 
A cólera contra a injustiça
Faz a voz ficar rouca! 
Infelizmente, nós, 
Que queríamos preparar o caminho para a amizade, 
Não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos. 
Mas vocês, quando chegar o tempo
Em que o homem seja amigo do homem, 
Pensem em nós
Com um pouco de compreensão.

Sem comentários:

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

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meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

ABRIL DE 2008
meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

Abril de 2009

Abril de 2009
ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein