A minha professora da primeira classe zurzia de modo
natural uma menina e outra com reguadas se pingava a folha de prova com um
pingo caído do aparo ou se errava os que vão na conta de dividir ou errava os
dois erres duma palavra ou dizia dezanove em vez de dezasseis a responder a
quantos são quatro vezes quatro.
A minha professora batia nas palmas das mãos das suas
alunas com uma régua fininha ou com a chamada menina dos cinco olhos.
Mas essa professora que tive na primeira classe e que era
muito minha amiga, assim dizia a minha mãe, essa senhora que tinha pó de arroz
a saltitar nos pelos do rosto rosado e bochechudo, zurzia de régua de madeira
colocada em esquina quem não levasse bata branca, ou não a levasse bem lavada,
ou quem, como a Adélia, não levasse cuecas a cobrir as partes.
A Adélia não as usava. Ponto.
Haverá por este termo quem tenha estado lá e tenha visto.
Perante a sala muda de receio e pasmo, sei lá se também
de raivas, sei lá eu se de medo seriam as carinhas das meninas vestidinhas de
bibinhos brancos em filas de carteiras certinhas, duas meninas em cada uma, e a
régua a estalar nas carnes da Adélia, o rabo nu virado para a sala.
A minha professora da primeira classe, e nem era medo que
lhe tinha, eu que, além da bata vincada e a luzir de alva, trazia sempre cuequinhas,
cada dia umas, e um vestido por debaixo da bata que era coisa muito apreciada
pela professora que levantava a ponta do bibe a ver o que cada uma trazia por
baixo com o mesmo à vontade com que virava as folhas dos cadernos a ver se os tínhamos
limpos.
Não seriam todas, mas era natural e
aconteceu na minha primeira classe e na segunda.
1 comentário:
Antigamente era mesmo assim:)
Beijos
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