sexta-feira, 9 de março de 2012

o meu preito

tinha umas palavras escritas
modifiquei-as o quanto necessário
e deixo-as aqui em memória
que ontem uma amiga de amiga ficou viúva
e mais umas tantas partiram desde que escrevi as tais palavras


Elas vão ao mercado, usam trança se o cabelos lhes dá, ou peruca se lhes for necessário, e cada uma delas pinta a vida com as cores das tintas, ou com sorrisos, ou usa essa cor em vestidos, numas mais soltos do que em outras, e lêem livros nas esplanadas onde conversam ou se recolhem.
E gostam de passear sozinhas, tanto como de ficar conversando pela noite dentro com uma amiga ou num bar em volta de uns copos.
Não deram nas vistas senão o necessário para que se sentissem vivas: intervenientes o bastante porque cada umas delas nem podia fechar os olhos, que o coração lhes falava mais alto.
Mulheres sem mais de especial que terem sido isso mesmo a cem por cento.
E se hoje assim as falo, é apenas porque me faz espécie que não sejam lembradas. Nem uma palavra que dissesse: recolheu-se à morada de Deus.
Por mim, soltaria uma pomba branca, ou que fosse uma de outra cor, no propósito de lembrar  que morreu, discreta e sofrida…e viria o nome dela num papelinho preso numa pata da avezinha.
Melhor ainda, que se fizesse dito, como era antigamente, uma arruaça. Que alguém gritasse em tom de oração: muito obrigada minha amiga! E dizendo-lhe o nome todos rezariam por mais uma mulher que partia: uma mulher que ao sábado iria ao mercado e que, se tocava piano ou fazia versos, ou desenhos, era no recolhimento da sua intimidade.
Eu vejo-as partirem, discretas, cheias de vagares nos preparos da viagem, e fico-me pensando, se nós, os que com ela convivemos e fomos bafejados pela sorte de lhes conhecer os dotes, não devemos fazer-lhes homenagem, que mais não seja conversando delas.

4 comentários:

wind disse...

E fizeste uma bonita homenagem.
Beijos

Benó disse...

Linda e merecida homenagem às mulheres que partiram,que conviveram connosco,que conhecemos,que as sabiamos de corpo inteiro. Mulheres sofridas e que a solidão as ensinou novamente a sorrir.
Gostei muito desta tua homenagem, Maria de Fátima.

Mena G disse...

Bela homenagem. Belo texto, como sempre.

Jorge Pinheiro disse...

Ficam flashes da vida dos outros que nos perseguem como se fossemos nós. A morte é uma execução colectiva.

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

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meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

ABRIL DE 2008
meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

Abril de 2009

Abril de 2009
ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein