domingo, 12 de dezembro de 2010

roda


nem mais que um aperto pelo estomago e as luzes do parque a ficarem longe
as luzes do parque a piscarem cada vez mais lá em baixo
e Maria a querer segurar a mão de Roberto, ter um apoio
ela a degladiar-se com o enjôo da vertigem, aquele horror de querer atirar-se, mais do que ficar ali a digerir o derradeiro bocado de algodão doce
Roberto colocou-lhe o braço sobre os ombros que ela trazia nús - e nem era disso o frio no pescoço e nem era esse frio que ela sentia a percorrer-lhe o corpo ao contacto de pele contra pele
a pele dele que ela sabia que seria nunca mais
Maria numa confusão a subir naquele brinquedo
- vamos? - dissera ele
e Maria nem olhe que enjôo, olhe que tenho medo de estar lá tão no alto
que ela desejava tanto saber como seria estarem os dois ali tão sem apoio, o vento quente a afagar-lhes o rosto e eles apenas: os dois
ela queria saber como seria ficarem assim longe
e agora é só aquele arrepio no corpo
e o braço dele como se fosse corda que a dependurasse no vazio
e Maria vomita
os pedacinhos de algodão doce devem ter-se desfeito sobre as luzes, sobre alguma barraquinha de pinhões
talvez tenha caido um nico mal digerido sobre aquele casal: dois velhos que se beijavam eternecidos no momento em que a roda iniciou o movimento

Maria fecha os olhos e diz apenas:
- Nunca mais, Roberto
e nem o namorado saberia se era do andar na roda se era deles...

4 comentários:

Jorge Pinheiro disse...

Nunca tive oportunidade de de namorar ou sequer engatar alguèm nestas coisas. Deve ser por isso que sou assim... traumatizado :)
Belo texto. Expressivo, na vertigem do momento.

Daniel disse...

Oi Maria de Fátima, tudo bem?

Se você é como eu que sente falta da Tertúlia Virtual, por favor, deixa um comentário neste link lá no Varal de Idéias.

http://cimitan.blogspot.com/2010/12/comentarios-que-valem-um-post_14.html

Estamos tentando reviver aqueles bons momentos da Tertúlia.

Um abraco

wind disse...

Escritora, está lindíssimo!
Beijos

deodato santos disse...

A LENDA DOS TANQUES DE LAVAR DE SÃO JOÃO

troco uma peça em madeira de minha autoria, sem valor comercial, por texto por mim escolhido.
pode-se enviar vários textos.
minimo: 3000 caracteres máximo 6000
datas: de inscrição, 31 de janeiro 2010; de envio eletrónico, 15 fevereiro 2011.
para: deodato1936@hotmail.com

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

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meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

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meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

Abril de 2009

Abril de 2009
ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein