Eram brincadeiras variadas a entreter serões. Noites de inverno longas e sem sonos. A mãe ia apanhando uns e outros até estarem todos. O pai nunca brincava. O pai nunca corria pela casa agarrado aos suspensórios ou ao bibe, ou aos nós do avental. O pai nunca encalhava nos móveis nem dizia, apavorado, cá da última carruagem, a mão a soltar-se como se fosse desengatar-se da composição: esperem, num tom tão de desespero que a máquina resfolegava, amainava a corrida sempre a fazer pouca terra úú, pouca terra úú, sempre a carborar e a deitar fumo, enquanto aguardava que o António calçasse a pantufa que saira do pé, que ele mal ainda andava quanto mais deslizar certinho em cima de supostos carris.
Era sempre a mãe quem fazia de locomotiva. Era sempre a mãe a convidar que brincassem.
António há-de ouvi-la, vida fora, na cantilena em que todos a acompanhavam: pouca terra muita tralha, o diabo que trabalha, pouca terra muita areia, o diabo que semeia…
3 comentários:
Escritora, recordações boas de uma infância que já não volta:)
Beijos
Muito bom! á tinha saudades de te ler.
Doces recordações, de uma linda infancia.Beijos amada, obrigada por semear.
Enviar um comentário