O sol encandeia apesar das nuvens, ou nem disso, que nem há fiapos, nem rolos, nem castelos a enfeitar o ceu deste Maio.
Um céu que nem é de chuva mas de demência: Um tempo de malucos. Assim diria a minha avó materna se olhasse este ceu de hoje com os olhos que ela tinha pardos: um cinzento mesclado de azul claro, olhos de cataratas e choros e cansaços, olhos quase cegos de ver tanto, olhos em tudo semelhantes ao ceu que nos cobre desde o solstício.
Um céu descido sobre a Terra, tão baixinho, que a gente cuida chegar lá se espetar um dedo.
Um céu descido sobre a Terra, tão baixinho, que a gente cuida chegar lá se espetar um dedo.
Um céu ligado ao chão que está molhado do chichi dos anjos pela noite, que não se vê que caiam bagos.
Um céu coberto por uma ténue pasta parda que cai, de lá cima cá abaixo, e nos encobre os sonhos, se dormimos, e nos entontece ideias e entorta dizeres, se andamos.
Um ceu como se fora véu de noiva morta na véspera das bodas, feitas exéquias, com o padre a enganar-se na leitura e os convidados a darem os meus parabéns à mãe da noiva.
Um ceu como maçã podre, deslizando fedores, este ceu que cobre o mês de Maio e está Nossa Senhora para se mostrar e nem o sol redondo, inchado, prenhe de fogos e de medos, a mostrar-se bailando, se preciso, aos olhos peregrinos, fálicos de segredos e terços e pecados e promessas e caminhos percorridos sangrando, que nem o sol a aquecer asfaltos, pedrinhas, terras, a tornar mais apetecido o sacrifício, mais suculento o pé a quem o trata com desvelos de águas quase bentas.
Um ceu como maçã podre, deslizando fedores, este ceu que cobre o mês de Maio e está Nossa Senhora para se mostrar e nem o sol redondo, inchado, prenhe de fogos e de medos, a mostrar-se bailando, se preciso, aos olhos peregrinos, fálicos de segredos e terços e pecados e promessas e caminhos percorridos sangrando, que nem o sol a aquecer asfaltos, pedrinhas, terras, a tornar mais apetecido o sacrifício, mais suculento o pé a quem o trata com desvelos de águas quase bentas.
Um horror, estes dias cinzentos com o sol apertado entre vapores, calores filtrados, sufocantes, a doerem as frontes das gentes, dos mais sensíveis, das virgens e mulheres entradas, dos seres em espera de algo, que somos quase todos. Testas alagadas de águas gélidas, que são assim os suores de tristezas, de doenças e de medos.
Nem rodam um pouquinho os cata-ventos: firmes na direcção do mesmo ponto, vai para meses, que se apontassem como deve, nestes dias, seria a um siroco, mas nem é essa a latitude.
Nem rodam um pouquinho os cata-ventos: firmes na direcção do mesmo ponto, vai para meses, que se apontassem como deve, nestes dias, seria a um siroco, mas nem é essa a latitude.
Pastosas as angústias neste mês de tolos.
E nas mãos húmidas escorrem suores tão mal cheirosos como os que empapam os sovacos escanhoados das madames que aprovam vestidos novos para o Verão, leves, decotados, de sedas finas e algodões de cores garridas, embrulhadas em capas e cobertas por sombrinhas.
9 comentários:
Escritora, és espectacular como acertas e escreves tão bem a realidade!
Beijos
Horror de ror de maus indícios!
Mandei-te um mail para o endereço que aqui tens e veio devolvido!
Que caiam os anjos, todos feitos bagos!
Lindo.
Já reenviei! rsrsrsrs
É um Céu dos tempos: não chove nem sai de cima... Beijo!
"castelos a enfeitar o ceu deste Maio"
Hummm... fico desconfiado com este... Maio.
«E nas mãos húmidas escorrem suores tão mal cheirosos como os que empapam os sovacos escanhoados das madames que aprovam vestidos novos para o Verão, leves, decotados, de sedas finas e algodões de cores garridas, embrulhadas em capas e cobertas por sombrinhas.» Belo poema em technicolor e odorama.
;)
É como so usa dizer: Nem põe nem tira, fica...o céu , claro está.
Bj.
E outra vez rendida com a descoberta duma escrita magnífica!
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