aconteceu-me escrever um diário
andava pelos catorze, quinze
coisinha simples
apenas uma data no cimo da página (indicando a hora e a cidade) e depois o contado, preciso, de cada acontecido
o cão que correra atrás da bicicleta "e eu cheia de medo quase caí" o meu pai que chegou atrasado à mesa "olha se fosse eu, levava logo sermão e missa cantada se não fosse uma chapada" ou aquelas manias do irmão adorado "o meu irmão é tão presunçoso" e por aí adiante
contava o namoro, a paixão, o sucedido em cada volta daquele passeio com a Cremilde, a ida na mota do Fernando "ai se o meu pai soubesse!!"
nada inocente, estejam certos!
o meu diário bem escondido
escrito em cadernos de escola com a palavra HISTÓRIA na capa em letras grandes para afugentar incautos: a minha mãe, quem sabe pesquisando um zunzum da vizinha do lado
diário era palavra que não identificava o dito
e no entanto ele lá estava em páginas de letrinha redonda
a minha vida crescendo em cada dito
e que ditos!
podia lá cada escrito ser lido por olhos que não entendessem como era grande, que quase me afogava, a minha alma!
como ela se derramava no meu corpo e ameaçava afogar o corpo de outro!
podia lá alguém saber!
por isso, que mais não fosse, e havia outos por issos,soube-o muito mais tarde
o medo e o preconceito e mais que tudo, o esquecimento dos adultos do seu ter sido adolescente
ainda hoje me interrogo se por receio uns dos outros se por falta de caridade para consigo
eu escrevia um diário num caderno de linhas com caneta e tinta
escrevia e mostrava a uma, apenas à AMIGA
escrito em cadernos de escola com a palavra HISTÓRIA na capa em letras grandes para afugentar incautos: a minha mãe, quem sabe pesquisando um zunzum da vizinha do lado
diário era palavra que não identificava o dito
e no entanto ele lá estava em páginas de letrinha redonda
a minha vida crescendo em cada dito
e que ditos!
podia lá cada escrito ser lido por olhos que não entendessem como era grande, que quase me afogava, a minha alma!
como ela se derramava no meu corpo e ameaçava afogar o corpo de outro!
podia lá alguém saber!
por isso, que mais não fosse, e havia outos por issos,soube-o muito mais tarde
o medo e o preconceito e mais que tudo, o esquecimento dos adultos do seu ter sido adolescente
ainda hoje me interrogo se por receio uns dos outros se por falta de caridade para consigo
eu escrevia um diário num caderno de linhas com caneta e tinta
escrevia e mostrava a uma, apenas à AMIGA
hoje, escreveria onde?
se eu fosse adolescente, hoje
escreveria onde a minha alma efervescendo em corpo e clamando mundo?
hoje, que tramóias engendraria para dizer: "isto é meu, só meu e não abro mão"?
hoje, que fariam os nossos eus adolescentes?
eu, por mim, estou convicta, teria password
teria tantas quantas fosse preciso
podia uma delas ser HISTÓRIA
mas teria, estou certa, uma para cada sítio
e onde tivesse havido um descuido, tentaria, pelos meus meios, salvar o meu contado, o meu segredo
salvar-me eu de qualquer investida!
eu tive um diário
eu fui adolescente
(porque estou cansada
porque estou muito, muito cansada
cansada de os ouvir
cansada de estar calada
as palavras quase perdem o sentido
cansada de tanto ruído
cacofonia que se estende como azeite
nada de substantivo )
6 comentários:
Cansada cansada, só das palavras. Cada vez me apetece menos escrever!
Com que então "curioso! lindo!"
Então deixo aqui também a lindíssima curiosidade, hehehe:
«A reacção da professora foi infeliz, sobretudo porque ineficaz. Compreendo a atitude da aluna, quando tenta recuperar algo que lhe é muito pessoal e precioso e que a (in)cultura vigente elevou ao estatuto de objecto de culto. O telemóvel não devia ocupar o lugar de “confidente”, como se de um diário pessoal se tratasse, mas ocupa. Neste particular, subscrevo a posição do autor do post, sobretudo porque fico apreensivo com os sinais que vão surgindo no que concerne à adopção de medidas com vista a solucionar o problema da educação (medidas erradas porque tomadas à revelia do verdadeiro problema), nomeadamente no que toca à in/disciplina: «Crianças educadas para aceitarem ser controladas, vigiadas, a obedecer a ordens sem discutir, sem refilar, e depois entregues a patrões como se de gado manso se tratasse…»
Porém, é inequívoco que a atitude da aluna é errada, mas é a atitude habitual de muitos dos nossos alunos. Atitude reveladora da crise de valores, de cultura, de educação, de ausência de exercício de responsabilidade por parte da comunidade (pais, vizinhos e professores) em que o nosso país e, de um modo geral, as sociedades ocidentais se encontram. Os alunos não recebem educação na Escola porque esta perdeu essa faculdade. A Escola não educa, o seu objectivo é, desde há muito, ENSINAR (coisa que faz pessimamente, como o estudo feito com alunos da UC testemunha), e os jovens também não a recebem em casa porque os pais se demitiram dessa tarefa, ou nem a sabem exercer. E assim chegam às escolas hordas de jovens em estado selvagem, incapacitados para aprender, incapazes de deixar ensinar. E os professores também não aprenderam a lidar com estas situações. A maioria dos professores terão, no limite, aprendido a ensinar, não a educar, tão-pouco a reagir em situações de conflito físico, ou até verbal mais violento.
Parece-me evidente que vivemos um problema de cultura, presente em todas as actividades/manifestações sociais. Pretender imolar uma corporação, uma geração, um ministro, ou um jovem aluno que dispara uma caçadeira sobre os colegas no recreio, é iludir a questão. Este é o exemplo de um dos inúmeros “pequenos” problemas que não terão solução sem que se equacione uma reforma da cultura da sociedade hodierna.»
PSd: - Já não há messenger, não? Bem podia usar o messengerfx, que é coisa leve, não se instala no PC, não apanha vírus e dá para aceder com o LOGIN do original da microsoft. é só entrar aqui:
http://www8.messengerfx.com/
É assim: o meu barco pousou nas faldas de um monte, o seu provavelmente em águas do sul.A tripulação pouco difere. Hoje as tripulações não têm escorbuto, mas o déficit vitamínico é de educação, (qual será o termo médico?) . Também o ruído me fere os tímpanos, já de si tão puídos de outros palreios. É a vida com ou sem password. Diário? também o tive noutras eras... Cansada,? muito de um nada em tudo!
Escritora, escrevias aqui:)
Naquele tempo quase tudo era tabú:)
Beijos
Eu tenho um diário, eu sou adolescente ;)
O meu diário foi coisa de curta duração, tinha uma mãe muito curiosa por isso não convinha fiar. Hoje há a alternativa da net mas também há muitos curiosos e apresentam um perigo muito maior do que qualquer mãe algum dia apresentou. Elas queriam zelar pelo nosso "bem" (pelo menos à maneira delas era bem ) os outros nem por isso ...
Vou pôr o resto da leitura em dia.
Um beijo
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