Paria-os na casa. Por regra. Nem a todos calhara. Alguns nasceram-lhe por lá, por onde andava. Numa falda de serra, numa cumeada.
Era na casa que ela os cria crescendo. Acreditou sempre que era na casa que eles se educavam. E nem se dava que eles se faziam gente lá longe, nas terras de poucas casas onde eram as escolas. Levava-os ainda não desmamados. Trazia-os comendo côdea. Bolacha Maria distribuída por todos.
Descia-se com eles de aldeias onde branco só a cor nas paredes da escola. Um destom na paisagem escura. Amálgama de casas e pedras. Granitos e uma pouca de gente. E o gado. Branco o da neve que cobria tudo. As pedras e as casas. E o branco pardacento das paredes da escola. Um branco que os cobria de frio em volta de lenhos crepitando nas lareiras rasas. Fogos a cheirarem a carumas.
Lãs cardadas cobriam-lhes as camas. Anichavam-nos. Peles de cabras curtidas em sóis de Agosto. Andavam eles longe.
Regressavam a casa em intervalos certos. Depois voltavam. Outro nenhures. Outra serra. Outro de Outubro ao Verão seguinte. Entremeios feitos por Natais e Páscoas. E pelos partos. Era parir e ala.
Dois, e três, e quatro, trazia-os ela desprendidos no carro que não havia cintos, nem cadeirinhas, nem estradas com fitas brancas traçadas a desviar de precipícios, a marcar as curvas. E nem a desviá-la do escuro da noite, que a ela qualquer hora era a de os embalar, mais fraldas e brinquedos, e num canto a sua guitarra, e sair em busca do lugar da casa. O lugar das rosas. O lugar do mar.
Descia em busca da areia. O frio dos grãos nos pés com meias, pelas madrugadas.
Voltava ao seu homem.
Assim ela dizia: emprenho mal abro o portão da entrada.
E se gostava, dizendo-se, assim, numa gargalhada.
Ele nem a esperava. Ela surgia.
Saltava-lhe ao pescoço em frente ao cavalete onde ele pintava, debaixo da latada, se era um tempo ameno. Ou lhe descia à cave. Vagueava ele entre telas e grades, quadros inacabados com mamas e viscondes e pássaros de cartola, e fadas e duendes, e corças de pescoços longos em saltos graciosos.
Henrique desenhava mundos, e ela chegava.
A família em fila indiana, cada um dos filhos se desaparecendo pela casa da praia, como eles a chamavam. Um designar de que ela não gostava. A casa era a casa. Mas eles insistiam: vamos para a casa da praia, mãe. Pediam.
Por pouco tempo. Nunca mais que uma semana, em Natais ou Páscoas.
Ficar ali vivendo, como se ali vivesse, só no Verão. As férias grandes.
E era quando ele partia. Desandava de ali para países de muito longe em busca de espaços de mostrar, feiras ou outros encomendados.
Sempre no Verão das férias grandes.
Ficavam sós, ela e os meninos. Nem pai e nem marido.
Nunca o acompanhava. São tão pequenos e eu estou de novo grávida. Sabes? É o quarto.
Ria-lhe dependurada num pé, subindo-lhe ao rosto num beijo e num abraço.
E foi-se repetindo, ano a ano. Anunciava por Agosto.
Nas serras, em Invernos de frios, cresciam-lhe barrigas entre mapas do Continente e Ilhas, entre o livro de Língua Portuguesa recitando Os Ninhos de Vieira e o Livro de História com os reis e as dinastias e as guerras.
Nos Verões, ficavam ela e os meninos.
E o tio Francisco sentado na varanda encaixada entre duas portas de vidro.
A varanda de onde ela olha um céu sem estrelas entre a salinha e a porta do quarto, fechada já faz anos।
Era na casa que ela os cria crescendo. Acreditou sempre que era na casa que eles se educavam. E nem se dava que eles se faziam gente lá longe, nas terras de poucas casas onde eram as escolas. Levava-os ainda não desmamados. Trazia-os comendo côdea. Bolacha Maria distribuída por todos.
Descia-se com eles de aldeias onde branco só a cor nas paredes da escola. Um destom na paisagem escura. Amálgama de casas e pedras. Granitos e uma pouca de gente. E o gado. Branco o da neve que cobria tudo. As pedras e as casas. E o branco pardacento das paredes da escola. Um branco que os cobria de frio em volta de lenhos crepitando nas lareiras rasas. Fogos a cheirarem a carumas.
Lãs cardadas cobriam-lhes as camas. Anichavam-nos. Peles de cabras curtidas em sóis de Agosto. Andavam eles longe.
Regressavam a casa em intervalos certos. Depois voltavam. Outro nenhures. Outra serra. Outro de Outubro ao Verão seguinte. Entremeios feitos por Natais e Páscoas. E pelos partos. Era parir e ala.
Dois, e três, e quatro, trazia-os ela desprendidos no carro que não havia cintos, nem cadeirinhas, nem estradas com fitas brancas traçadas a desviar de precipícios, a marcar as curvas. E nem a desviá-la do escuro da noite, que a ela qualquer hora era a de os embalar, mais fraldas e brinquedos, e num canto a sua guitarra, e sair em busca do lugar da casa. O lugar das rosas. O lugar do mar.
Descia em busca da areia. O frio dos grãos nos pés com meias, pelas madrugadas.
Voltava ao seu homem.
Assim ela dizia: emprenho mal abro o portão da entrada.
E se gostava, dizendo-se, assim, numa gargalhada.
Ele nem a esperava. Ela surgia.
Saltava-lhe ao pescoço em frente ao cavalete onde ele pintava, debaixo da latada, se era um tempo ameno. Ou lhe descia à cave. Vagueava ele entre telas e grades, quadros inacabados com mamas e viscondes e pássaros de cartola, e fadas e duendes, e corças de pescoços longos em saltos graciosos.
Henrique desenhava mundos, e ela chegava.
A família em fila indiana, cada um dos filhos se desaparecendo pela casa da praia, como eles a chamavam. Um designar de que ela não gostava. A casa era a casa. Mas eles insistiam: vamos para a casa da praia, mãe. Pediam.
Por pouco tempo. Nunca mais que uma semana, em Natais ou Páscoas.
Ficar ali vivendo, como se ali vivesse, só no Verão. As férias grandes.
E era quando ele partia. Desandava de ali para países de muito longe em busca de espaços de mostrar, feiras ou outros encomendados.
Sempre no Verão das férias grandes.
Ficavam sós, ela e os meninos. Nem pai e nem marido.
Nunca o acompanhava. São tão pequenos e eu estou de novo grávida. Sabes? É o quarto.
Ria-lhe dependurada num pé, subindo-lhe ao rosto num beijo e num abraço.
E foi-se repetindo, ano a ano. Anunciava por Agosto.
Nas serras, em Invernos de frios, cresciam-lhe barrigas entre mapas do Continente e Ilhas, entre o livro de Língua Portuguesa recitando Os Ninhos de Vieira e o Livro de História com os reis e as dinastias e as guerras.
Nos Verões, ficavam ela e os meninos.
E o tio Francisco sentado na varanda encaixada entre duas portas de vidro.
A varanda de onde ela olha um céu sem estrelas entre a salinha e a porta do quarto, fechada já faz anos।
( a continuar)
5 comentários:
... estou a ler com toda a atenção. Não penses que ando a dormir na forma...
continua(s)*
* a dar o melhor de ti. Ainda bem. Abraço.
Encontrei-te ou reencontrei-te. Li e gostei. Vou voltar em breve.Gostei muito.
Livros! O melhor que há. Amigos a valer.
Beijinhosssss
Já quase que cheira à calmaria do sueste.......;)
Escritora estou a gostar muito:)
Olha deixei-te um desafio no webclub, se quiseres claro:)
Beijos
Também estou grávida de desejo de te continuar a ler. Que pacífica esta tua escrita. Nem preciso das estrelas ...
Um beijo grande princesa do Sul
(tinha-te deixado um desafio no dia de S. valentim mas não me ligaste nenhuma :( )
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