quarta-feira, 5 de setembro de 2007

esclarecendo

Para que a N.possa ficar esclarecida, eu explico! Ou tento...


João tinha uma merceeiria. O Senhor João da Merceeiria.
Na tarde da narração, uma freguesa, de nome Teresa Leiteira, contou que tinha fugido da cadeia o Zézinho, ao que parece pessoa conhecida, uma vez que ela se lembra de tê-lo visto pelos lados da ribeira da aldeia. João ouviu-a disfarçadamente pois que aviava, a ela e a outra cliente. Sem nada perguntar que desse ter do contado entendimento, ficou, no entanto, alertado e tratou de sair mais cedo. Por isso, ou porque não havia fregueses, não nos é contado. Ao que parece, ele receava algo. Mas podia ser de hábito o gesto que fez verificando se deixava a porta bem fechada. E entalou o braço.
O Senhor João é um merceeiro sem grandes desafogos, quer no que vende, o mais das vezes fiado, quer no modo de ele pensar, que é comedido, para não dizer que é ele um ser de tino fraco. E aparecem a realçar estes caracterizares, os dois fregueses de nomes inauditos, Ti Manel da Eira e Gertrudes Inácia, e a feia criatura que é a professora, morta de caganeira, a Dona Efigénia.
Enquanto subia, a caminho de casa, associou, sem dar por isso mais que o estar confuso, a dor do braço a outras dores de rasgões em silvas e aquele Zézinho ao homem que fugia do lado de lá do Pego Grande, quando encontrou boiando a sua Maria.
A gente não sabe, nem vai ficar sabendo, se ele retirou a Maria viva, se morta e nem que papel teve no caso o meliante. Ou sequer se era ele quem fugia do lado de lá do Pego Grande.
Não sabe e pronto.
Não faz parte do conto.
Não se pode contar o que não se sabe.
Aquilo que a gente sabe é que o João guardou bem no fundo de si o acontecido naquela tarde; que o deu ao esquecimento e, quando o encontramos cortando presunto, tudo desabou, e vemo-lo recordando de tal modo que lhe pareceu verdade.
E ficou, ao que parece, com saudade.
A que não tem nome,Maria a digo sem que saiba se era este o nome, era cheia de vida, estouvada e desejava que o João a visse no modo que ela gostava. E ele, ele não podia entender a sua Maria. Não tinha tino de entender sereia e nem mulher que boiava no pego.

Prouvera a deus,digo eu,naquela tarde, não tenha ela caído nas malhas do Zézinho. E ele fugindo deixando-a a boiar no Pego Grande. Morta? Viva?
Quem o sabe?!
O conto não o diz nem a isso é obrigado.
Fica contado que, o por mais esquecido, pode ser recordado.
O que ele recordou ao certo, isso a gente não o sabe...

5 comentários:

ND disse...

és fantástica! ontem, depois de deixar o comentário, pensei (sim, ocorreu-me um 2º acto) para comigo: fosse eu, não ia conseguir pegar no mesmo para dizê-lo diferente, para o fazer tinha que voltar a gostar de o escrever e talvez não gostasse mais.
Obrigada. Beijos!

(e sim, era a mulher que eu via a nadar que não via que pudesse só boiar, a relação com o Pego grande eu havia feito mas perdi-me na ligação temporal, completamente.)

PostScriptum disse...

fantástico! O que queres que te diga mais? que adorva ter-te em livro? Adorava mesmo.

Anónimo disse...

Olha, viste como isto já parece outra coisa. Bêjes!

wind disse...

Gargalhadas Escritora, está genial:)))
Beijos

Mena G disse...

Agora é que eu quase que não percebia...

Tentando uma coisa nova.
1ª postagem é para ti, só que ainda não sei fazer melhor.
Espreita: arrabisca.blogspot.pt

Não faças uma terceira versão!

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

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meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

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meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

Abril de 2009

Abril de 2009
ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein