segunda-feira, 13 de novembro de 2006

rezar

Gostava de saber rezar. Rezar o terço. Passar por entre indicador e polegar a conta de cada Ave Maria. Segurar entre as pontas serenas de dois dedos a conta em oração. Ave Maria cheia de Graça. E entre cada dezena um Pai Nosso que estás no Céu declamado, os olhos postos nele ali pregado. Não um rezar em capela ou banco de igreja. Rezar em qualquer lado. Num largo de cidade, numa rocha sobre um rio deslizando em garganta apertada. Rezar na beira de um ribeiro. Num cimo de montanha ou no deserto e podia estar eu rezando um terço. Passar por entre os dedos as continhas enquanto olhava aquele rosto que se zanga. Rezar, saber como o fazer pelo meu amigo que definha. Rezar o terço numa oração a seguir a outra oração. Um terço inteiro. Um terço rezado em devoção. Não sei. Falta-me a crença. Falta-me a paz do passear das contas. Um terço tenho. Descobriu-o enroladinho no fundo de uma caixa onde guardei, em dia incerto, algumas bugigangas. É um terço de contas brancas enfiadas no que parece ser um fio de prata. A cruz enegreceu e as contas estão pardas. Gostava de as fazer iluminar numa reza pura, mas eu não sei. Gostava. Talvez se tentasse ir desfiando as contas. Talvez se eu tentasse. Mas falta-me a crença. Falta-me a paz do passear das contas.


7 comentários:

Anónimo disse...

Todos precisamos de ritos! De ritos com ritmos marcados, precisos, de litanias. O sagrado pode negar-se, mas manifestar-se-á sempre, independentemente da forma que assuma. Uns rezam o terço, outros vão às compras. Eu gosto de ler em voz alta, às vezes...

augustoM disse...

Rezar todos sabemos, não é necesário forma ou discurso formado, basta deixar o coração falar.
Um abraço. Augusto

Anónimo disse...

Amiga
Nas horas que não são horas, nos dias que não são dias, procuramos, sem saber porquê, em desespero, qualquer coisa que esteja ao alcance dos deuses. A fé move tudo. Eu acredito nisto, apesar de no meu caso por vezes fraquejar. Ainda assim acredito que Ele nos dá estas provações para consolidar o nosso crer.
Amiga só este teu simples gesto, este tão belo acto de amor, aqui expresso por palavras lindas é uma das mais belas orações que já ouvi.
Como católico só espero que sejas atendida nas tuas preces e que o teu amigo receba a força que lhe pretendes dar. Por mim que também fraquejo tantas vezes incluo nas minhas intenções, nas minhas orações os teus desejos.
Saudades,
Rogério Martins SImões

wind disse...

Escritora, prosa profunda que é uma "reza".
eza assim pelo teu amigo e "Alguém" te ouvirá.
beijos

Anónimo disse...

Vim cá 3 vezes, sabias ?
E de todas elas me parecia reconhecer qualquer coisa. Seria o ritmo, o entoar, a melodia das palavras.
Dizias tu que não sabias rezar...
Pois eu senti a paz nas tuas palavras que fizeram de contas

Beijo enorme

Beatriz disse...

Pede a alguém, velhinho como os caminhos, que reze para ti. Não um terço, não uma dezena sequer. Pede apenas que reze com alma, que te fale ao coração invocando a magia de um Amor tão grande. E espera até sentires que algo se descobre em ti. Até achares que ainda há um fio de fé para puxar e que te empurre a voz para uma oração: não um terço, nem sequer uma dezena, mas uma oração feita por ti, e principalmente à tua medida

Anónimo disse...

Creio que também eu não sei rezar...Mas mesmo assim rezo, pedindo perdão por não saber fazê-lo de maneira melhor.Muitas vezes vou desfiando o terço, mesmo sem conseguir naquele momento, sentir-me inundada pelo Espírito. Mas acredito que em cada Ave-Maria que rezamos,repetidas,repetidas,
repetidas: conseguimos jogar uma gota de luz á mais no mundo necessitado de luz. E por isso é que continuo rezando, em qualquer lugar onde esteja, mesmo sem um terço nas mãos.Ou na solidão do meu quarto, segurando meu velho terço de contas de madeira.

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

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meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

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meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

Abril de 2009

Abril de 2009
ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein