Hoje, voltei a colocar o véu negro de uma renda muito antiga.Cobri com ele o cabelo que se me encaracola na testa. Tracei-o em volta do pescoço como mantilha que ele quase se deixa ser. Foi pela manhã. Ainda mal me dera em vista de gentes. O véu soltado numa das pontas sobre o desnudo do ombro bronzeado dos intervalos a que o mar me chama. Clamei-me eu sem mais denodo que pensar que me acreditava. Do que me chegou de longe, nem lhe percebi o tom. Eu, exilada de entender. Vozes de não ditos, deveria eu repousar delas, que não sabe ninguém dizer do que se não representa, nem do desejo do outro desvendar silêncios.Eu e o negro do véu roçando-me o ombro. Tenho-me tomado pouco deste sobrevoar a onda em labareda, invocar verdades que nunca se revelam, que nem nunca se são. Tenho-me significado na fronteira. Hoje, avancei suspensa sobre as verdades impossíveis. Eu, no véu, afastando neblinas e finos, muito finos, ruídos.
4 comentários:
tão bonitas as tuas descrições. beijinhos grandes
Um texto cheio de significados, para ti de uma forma e para mim de uma outra, mas tocou verdadeiramente a minha alma.
Obrigada pela partilha das tuas palavras.
Um abraço carinhoso e fica bem ;)
Escritora, só isto:Sublime!
beijos
Ola ola mas que coisa linda a mulher escreve mesmo bem...
depois visita-me em Agosto e so vejo em setembro que o fez ai ai ai que sou esmo desnaturado e ainda por cima quer saber a continuação! Não sei não se posto o resto porque só a pedido especial o farei, lol.
beijinhos Setúbalenses para uma senhora dos Algarves que tem um sorriso medonho.
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