terça-feira, 5 de setembro de 2006

em torno do garfo perdido

Colocado sobre a toalha de ramagens, estava um garfo. Um garfo quase perdido (penso eu que o vi). Quase perdido, não fora uma luz concentrada na sua parte média, cujo reflexo era impossível de desatender.
Um foco de luz que, a desaparecer, deixaria o garfo perdido sobre a toalha de ramagens (vermelhas, ramagens vermelhas, eu disse?).
Assim um decorrer de tempo que desobrigaria o sol de reflectir no garfo a sua luz, ou: estando o garfo sobre a toalha de ramagens vermelhas (largas, ramagens largas, eu disse?) oriundo o reflexo da luz do lustre colocado mesmo sobre o centro da toalha, seria o tempo certo para apagar as lâmpadas do lustre.
Teriam, de qualquer modo, que se retirar as condições em que o garfo reflectia a luz. E, sobre a toalha de largas ramagens vermelhas (salpicadas de verdes miúdos, eu disse?), não teríamos dúvidas de estar um garfo perdido sem a luz reflectida numa qualquer das suas partes pela luz do sol ou pela luz do lustre.
Teria sido o garfo colocado sobre a toalha no pino do meio-dia, ou na hora das trindades, uma e outra, horas em que se distribuem os talheres sobre as toalhas, neste caso sobre uma toalha (bordada, uma toalha bordada, eu disse?) de largas ramagens vermelhas salpicadas de verdes miúdos
E o dia decorrera. As portadas das janelas fecharam na calma do meio-dia e abriram no fresco do entardecer. O lustre acendera e apagara.
E os reflexos no garfo foram e vieram, e o garfo ali perdido (perdido, penso eu que o vi). Com ou sem uma luz qualquer a reflectir-se numa das suas partes.
Quem diz que uma luz reflectida num garfo torna o garfo menos perdido?
Triste garfo sobre uma toalha , reflectindo luz.
Triste garfo sobre uma toalha, sem reflectir luz que o veja.
Um garfo perdido, sobre uma toalha, numa sala com portadas nas janelas, (verdes, portadas verdes, eu disse?). Um garfo perdido, mesmo que uma luz se reflicta numa das suas partes por um intervalo de tempo mais ou menos largo. O tempo necessário para estar um garfo perdido colocado sobre uma toalha bordada com largas ramagens vermelhas salpicadas de verdes miúdos.

Imagem da Seila aqui

4 comentários:

wind disse...

Escritora, deixas-me mais uma vez sem palavras. O que e como escreves tocatanto cá dentro, que fico emocionada e bloqueio.
Sublime!
Beijos

Alberto Oliveira disse...

Um garfo ficou perdido
em toalhas de ramagens
que sorte não ter caido
na mala das minhas viagens.*


* Albertto Legível, especialista em viagens inter-continentais e outras coisas surreais.

Titas disse...

Sublime, Seila!
Há quanto tempo?
Quantas saudades!
O convite para o Gato Pardo não está esquecido....
Lá para início de Outubro, que dizes?

//(~_~)\\ um beijo da Titas

Licínia Quitério disse...

Fico verde de inveja (verde com ramagens, eu disse?).

Um beijo.

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

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meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

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meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

Abril de 2009

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ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein