Casaram-se em Novembro num Inverno distante.
Lembra-se que nevava.
Não fizeram boda. Nem casaram na Igreja.
Colocaram uma sobre a outra cada uma das mãos direitas. A dela sobre a dele.
A dele, assente na rocha de granito da falésia.
Uniram os lábios por sobre as mãos assentes uma sobre a outra e sobre a rocha fria.
Um beijo que soltou as mãos e se fez abraço e se fez carícia.
Os corpos enleados sobre a rocha cinzenta com o mar muito a rugir de azul e cinzento de nuvens.
A rugir o mar lá muito embaixo e lá muito até onde cada um deles não podia dizer mais se era mar ou céu porque nevava.
E disso - que nevava - ela lembra-se muito bem.
Como se lembra de tudo o resto.
Mas desse tudo o resto, ela lembra-se de modo bem diferente daquele em que recorda a neve.
Lembra-se que nevava.
Não fizeram boda. Nem casaram na Igreja.
Colocaram uma sobre a outra cada uma das mãos direitas. A dela sobre a dele.
A dele, assente na rocha de granito da falésia.
Uniram os lábios por sobre as mãos assentes uma sobre a outra e sobre a rocha fria.
Um beijo que soltou as mãos e se fez abraço e se fez carícia.
Os corpos enleados sobre a rocha cinzenta com o mar muito a rugir de azul e cinzento de nuvens.
A rugir o mar lá muito embaixo e lá muito até onde cada um deles não podia dizer mais se era mar ou céu porque nevava.
E disso - que nevava - ela lembra-se muito bem.
Como se lembra de tudo o resto.
Mas desse tudo o resto, ela lembra-se de modo bem diferente daquele em que recorda a neve.
É como se os registos tivessem ficado em zonas diferentes.
Tudo o resto ficou na zona dos sentires.
A neve ficou na zona dos olhares.
E este modo diferente de registo do seu casamento, num Inverno de há muitos anos, faz muita, faz toda a diferença quando ela relembra.
A pedra quente apesar da neve.
A neve a cobrir-lhe o casaco e as botas.
As botas enlaçando-o pela cintura.
As mãos dele seguranda-a por debaixo do casaco
As mãos dele escorregando sobre o vestido.
As mãos dele.
Até ela nem saber que houvera um vestido.
Até apenas saber que a neve sobre o corpo dele sabia a sal.
E saber um rugir que não era o do mar.
E a serenidade.
Um silêncio que parece que o mar calou e ficou à espreita.
Um silêncio de mãos dadas, de sorrisos, de olhares, de carícias.
Tudo o resto ficou na zona dos sentires.
A neve ficou na zona dos olhares.
E este modo diferente de registo do seu casamento, num Inverno de há muitos anos, faz muita, faz toda a diferença quando ela relembra.
A pedra quente apesar da neve.
A neve a cobrir-lhe o casaco e as botas.
As botas enlaçando-o pela cintura.
As mãos dele seguranda-a por debaixo do casaco
As mãos dele escorregando sobre o vestido.
As mãos dele.
Até ela nem saber que houvera um vestido.
Até apenas saber que a neve sobre o corpo dele sabia a sal.
E saber um rugir que não era o do mar.
E a serenidade.
Um silêncio que parece que o mar calou e ficou à espreita.
Um silêncio de mãos dadas, de sorrisos, de olhares, de carícias.
E a neve suspensa sobre eles num raio de sol.
Não casaram pela Igreja. Nem tiveram boda. Nem trocaram alianças.
Apenas eles, a rocha na falésia, o mar e a neve.
(Na zona mais escondida dos sentires, ela registou uma palavra.
Uma palavrinha dita e redita, num dia distante de um Novembro .
E é com essa palavra que ela conta o seu casamento num Inverno de há muito, num dia em que nevava.)
Ode To Klimpt de Danny McBride
7 comentários:
que imagens tão belas!
Escritora está belo demais!:) beijos
Um espanto! Uma alegria de alma...
Grata pela partilha.
Beijo ;)
Pronto, hoje já me consolaste a alma. O melhor é mesmo nem navegar mais... :) Ficar assim, deixar que o efeito destas palavras perdure.
Beijão
Belo texto. Palavras bem escolhidas para traduzir o clima de encantamento. Sente-se que tens muito prazer em escrever. E eu em ler-te.
Beijo.
Licínia
Ó mulher! num casamento assim até eu gostava de ser convidado. .. para fazer ski...
Belo!
nem imaginas como gostei deste zonamento de um casamento e da palavrinha da zona dos sentires, já que a zona dos olhares ficou cativa na neve... Palavrinha
beijo
Enviar um comentário