quarta-feira, 31 de maio de 2006

dia da criança e entardecer

Não quero deixar passar este dia sem um sinal explicito da sua comemoração.
A minha homenagem a todas as crianças maltratadas, das mais variadas maneiras.
Pelas guerras,que as matam,fazem órfãos e as deixam estropiadas de corpo e alma, que as deixam com fome. Fome que também lhes vem desta sociedade de consumo e riqueza mal distribuida onde os despedimentos se sucedem sem respeito pela pessoa, onde o desemprego é o que mais de certo têm os jovens pais. E é sempre na criança desprotegida que se projecta o horror de uma sociedade que deixou de ter em mais alto valor a pessoa.
A todas as crianças desejo que, com todos os engulhos que se lhes deparam, consigam construir uma sociedade mais digna do ser humano.

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entardecer
A luz de fim de dia escorre no cortinado. Olha-a deslizando no tapete tal bicho espreitando a presa. Vê-a subir-lhe as pernas e descansar-lhe nos joelhos.
Dentro em pouco ir-se-á. Um pincelar de negro na sala.
Silenciosa, fica um minuto saboreando o sem luz. Desprende a trança. Acende o abajour. A sala em fosco à luz da lâmpada. A trança iluminada. Uma cobra doirada desce-lhe o colo. Cobra mamando leite de mãe. Menino morrendo que cobra seca o leite.
Fica em sobressalto. A madeira range. Range a madeira do soalho. Range sempre na hora do ligar dos candeeiros. O cortinado move-se num baloiço que não é de brisa.
Cai-lhe sobre o rosto uma sombra. Estremece.
No entre ela e a luz do candeeiro, aveluda-se o ar de um perfume. Deixa que as mãos se lhe desçam do regaço. As mãos escondidas nos cabelos dele. Ele sentado no tapete. A cabeça dele no seu colo.
O cortinado sossega na calma da noite. A madeira calou os rangeres. A sala acariciada no silêncio do anoitecer.

10 comentários:

segurademim disse...

... feliz dia da criança, nessa sala de leite e mel

beijo

wind disse...

Escritora (sim, escritora), como manuseias as palavras para contar uma "estória" é demais!:) Muito bom!:) beijos

Alberto Oliveira disse...

Um texto muito bem escolhido para ilustrar o dia que hoje se comemora.
A estória da cobra, ouvi-a uma certa vez da boca da minha avó; a que propósito ou com quem se passava, a memória já apagou os pormenores. Mas na altura, ainda jovem, arrepiei-me...

Nilson Barcelli disse...

As crianças merecem o melhor. Mas ainda são tão maltratadas...

O teu conto cria uma atmosfera mística e de um certo medo que arrepia. Escreveste-o magistralmente.
Em pequeno ouvia uma história muito parecida, tida como verdadeira, e ficava sempre arrepiado. Mas tu arrepiaste-me muito mais.

Beijinhos.

Licínia Quitério disse...

Que bom ler-te. Senti-me "dentro" da história. Crias atmosferas a que chamarei palpáveis.
Bom fim de semana.
Beijos.
Licínia

Alexandre de Sousa disse...

Aguardo uma visita lá no pedaço

Anónimo disse...

Olá querida, quantas saudades sinto de ti...
Sumi, eu sei, e foi por longo tempo, mas cá estou de volta.
Espero que pra valer, he he
Fique com Deus, e dê notícias...

Poemas de amor e dor disse...

Que bom não ter desistido de vez. Que bom sentir esta luz dos teus contos.
Saudades
ROgério

Blogogamico disse...

adorei ambos os registos, adorei a foto, esta sublime.
queria agradecer pela visita ao meu blog,

jinhus

Anónimo disse...

Very cool design! Useful information. Go on! low cost lipitor Cmw company inc vacuum cleaners central Old pontiacs hood ornaments St marten live web cam Has been prevented by a software Usat botox aquamid cennik Airline cheep discount student ticket spain Land rover backgrounds Computer sluggish Compare cylinder vacuum cleaners buick lasaber limited cars Trojan spyware removal telematrix phone Mipam thurman+tibet house Didrex discount sale motorola batteries Cruise discounted hawaii vacation Female body fat

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meu honroso quarto lugar

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meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

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ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein