sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

segredinhos

Como quando se inicia numa cidade, nas suas ruas, jardins, cinemas, assim se leva algum tempo na vida até que os lugares e os acontecimentos se correlacionem.
Agora ela sabia.
Não o sabia a menina sentada quase na boca do palco naquela manhã.


O palco, espaço disponível em tom de aconchego no resto do ginásio escolar. Uma dezena de meninas de olhos muito abertos e ouvidos muito atentos. Tão abertos quanto estavam habituados a se disporem atentos aos mútuos segredinhos. A tensão da surpresa naquele chamamento no que seria a aula de ginástica.
A professora falou, sorriu, corou. Um corar das faces brancas fazia sentir que algo de estranho vinha nas palavras.
Os minutos que completariam a quase hora a passar e a professora falando. E o chão ligando-se ao tecto. Negro. Apertado. E a mancha no chão de madeira, um sangue vivo derramado pelo corpo, pelos corpos de cada uma delas. As palavras da professora e elas aconchegadas. Sem se aperceberem, juntando os corpos. Dando-se as mãos. Rindo, risinhos.
Depois, distantes daqueles dizeres que carregavam as palavras, nos segredinhos que sempre faziam... Nenhuma delas localizou no corpo o que as palavras diziam. Nenhuma delas via, no que a professora falara, alguns dos segredinhos que faziam. Nenhuma delas disse que sentira o medo que sentira.
Nenhuma delas disse que não sabia o que ouvira nas palavras que ouvira.
Nenhuma delas sabia que era nos segredinhos que lhes estava ainda a sabedoria.

6 comentários:

wind disse...

A tua forma de escrever é impressionante. Mas isso já o sabes:) beijos e bom fim de semana

Alberto Oliveira disse...

Segredinhos de menina
são histórias de encantar;
de as contar muito te anima
de as escreveres por gostar.

5 Pontas disse...

Ah... Que prazer vir ler o que escreve a minha professora e voltar, sempre voltar...

Afrodite disse...

Ora então faça o favor de passar pela minha casa, JÁ, e excutar o que ali lhe é exigido.

§(~_~)§ beijo da Afrodite
(uma carinha d'anjo num corpo espectacular, com tudo no sítio, muito dentro do prazo, sem aditivos nem silicones)

lique disse...

Idade de inocência e de iniciação nos segredos do corpo. Como eram bons os segredinhos dessa época, apesar do medo, apesar da estranheza... :)
Beijão

Humor Negro disse...

gabo-te a pachorra de teres ficado horas e horas naquela posição agarrada ao lençol. mas valeu a pena. a pintura ficou gira. ;-)

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

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meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

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meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

Abril de 2009

Abril de 2009
ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein