quinta-feira, 5 de janeiro de 2006

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Rastejam. Gatinham. Apressam-se...devagar. Emaranham-se. Esfoliam-se em entrançados e gotejam suores fedorentos. Cospem. Cospem-se. Reviram-nos olhares de medo. Vermelhos olhares de álcool. Bafejam-nos. Abrem escancaradas goelas de sangue. Vomitam. Vomitam-se. A música afoga-os. Ensurdecem-nos de som. Cegam-nos de luz. Estremecem nas pernas. Bamboleiam ao som que não ouvem, na luz que não vêem. Esfumam-se entre a multidão e ficam na sombra de fedor que nos deixam. É quase manhã. Por debaixo do som, o som do líquido sobre o líquido. Por debaixo do som, o som do vidro a desfazer-se de copo em caco. Chocam. Empurram. Partem. Não vão. É quase manhã. Dormem de olhos abertos. Os cotovelos enterrados numa tábua-pedra-tampo. Os dedos dormem sobre os vidros-copos. O som embala-os. Gotejam líquidos. Mijam. Bebem. Vomitam.


Pelo dia, dormem. Enrolados. Caracóis de casca mole, húmidos de imaturidade. Caracóis de ervas amargas. Intragáveis. Imprestáveis. Quando lhes toca a luz do sol, desenrolam e continuam rastejando.

10 comentários:

wind disse...

1º- O blog está lindo.
2º- O que escreveste bate erfeitamente no que acontece na noite, nas discos. O que sentem, o que fazem. Para variar, mais um belo post. A foto está magnífica! beijos

Alberto Oliveira disse...

Já levei com alguns assim. Mas aguento-me. Contam histórias sem princípio nem fim; quando chegam ao meio, já eu vou longe...

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

é o que eu digo, isto anda tudo perdido :)

agora a sério, gostei de ler, é muito "forte" (e sim, o novo visual é muito giro)

PS: o teu comentário veio ao encontro dos meus pensamentos :))

Papo-seco disse...

Seguiu convite! Stop!
Muito honrado ficarei Stop!
Que o aceite Stop!

Pelo que li Stop!

Aqui Stop!

É a pessoa indicada Stop!

Aguardo ansiosamente Stop!

Bom Ano Stop!

Anónimo disse...

A calma passou a ser um vírus incurável, as pessoas deixaram de saber conviver sem o famigerado copo emborcado... O que está verdadeiramente na moda é o epiléptico que emana energia a abanar o capacete e vomitando tudo o que vai ingerindo, porque já não se conhece no seu estado normal.

Beijos

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

desculpa o apelo tão vulgar mas...
tenho Chat (os). Acode!

Amaral disse...

Esta prosa não deixa ninguém indiferente. Porque é forte e acutilante. Porque denuncia e acusa. Porque aponta e ajuiza.
Escrito com a garra do que sentes e o frenesim do que desejas transmitir, as tuas palavras não precisam de frases longas.

Anónimo disse...

atão é assim oh marafada - a contipação fez-te arranjar um template lindo para o blog e apurou-te ainda mais (coisa difícil) a escrita. texto fabuloso. porra não te posso fazer tantos elogios ;) beijo grande minha amiga e um exelente ano de 2006.

p.s. cura-te até as amendoeiras estarem em flor porque apetece-me ir caçar.

Nilson Barcelli disse...

Caracterizaste muito bem um submundo que existe à nossa volta. Em todo o lado. Ainda que vomitem de maneira diferente. Que fauna...
Beijinhos.

Conceição Paulino disse...

este teu FORTE "retrato" veste muitos e diferenciados grupos. Muito bom.
Bom f.s Bjs e :)

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

desafio dos escritores
meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

ABRIL DE 2008
meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

Abril de 2009

Abril de 2009
ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein