Acompanhávamos o seu andarilhar. À distância de uma largura de rua, de um canteiro do jardim, do diâmetro do lago redondo. Sempre de dia. Naquele Agosto. De manhã e de tarde.
Mal a noite caía, parava aquele ir vir. Entrava em casa. Uma casa de madeira, acinzentada de muitas chuvas e sóis. Numa terra avermelhada de pedra solta, a uns quinhentos metros da última casa da rua principal da aldeia. Uma única lâmpada acendia a única janela. Era nessa hora, que se expandia em fins de tarde, que tu e eu corríamos cada um para a sua ceia.
Sabíamos que na manhã seguinte estaríamos sentados num dos quatro degraus da igreja. Aí ficaríamos, cada um esperando o não atraso do outro. Depois, correríamos rua abaixo. Correríamos como se a rua fosse uma infinidade de espaço percorrido à velocidade dos cavalos nas pradarias.
Ela estaria sentada na cozinha. O vestido verde com ramagens debotadas. O mesmo vestido da véspera mais enrodilhado. O cabelo ruivo mais despenteado. Descalça. Sempre de pés nus mesmo pisando as ruas mal empedradas da aldeia.
Naquela manhã, a janela estava fechada. Dissemo-nos: “foi da chuva de ontem”. Esperámos sentados no último pedacinho de pedra da rua principal.
Quem de nós afirmou: “a porta também está fechada”? E era assim – a casa estava toda fechada. Da torre, espraiaram-se sons de doze pancadas sobre esse dia de Agosto. A casa não fazia sombra.
Qual de nós desafiou, com o coração aos pulos: “vamos ver”?
Qual de nós apertou primeiro a mão do outro?
Quem deu o primeiro passo?
Quem tirou a tranca?
Quem conseguiu primeiro ver no escuro?
Quem gritou:”olha o sangue!”?
Teremos percebido, à ceia, o que ouvimos sobre ela?
“Coitada! Era uma triste! Desde que o namorado morreu!”
Na aldeia só nós a víamos. Na minha e na tua casa, sempre que falávamos dela, fazia-se silêncio. Na rua, éramos puxados se parávamos olhando-a. Nunca ninguém ouvia perguntar quando perguntávamos “quem é?”. São factos agora ou já nos eram na altura?
Naquela tarde, éramos senhores de que entendimento?
O que nos ficou foi só a brincadeira de a olhar de longe? Olhar, ela, naquele passo perdido, cruzado, enviesado. Cantarolando, ela. Falando alto, as mãos afagando a barriga. Correndo, por vezes, em passos, que pareciam de bailado.
Naqueles dias, a que chamámos dias de investigação, qual de nós, afirmou primeiro: “eu casava com ela”?
Qual de nós viu o outro com a cara ensopada em lágrimas quando a aldeia saiu para a rua vestida de negro?
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Hoje lembrei-me de ti
É noite de Natal
Eles fizeram a ceia e foram
Estou sozinho na casa enorme
Lembrei-me de ti, mas não te sei desde aquele Verão.
Na vida há perguntas que a gente fica sempre sem resposta...
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e que o 2006 vos seja cheio de VIDA
20 comentários:
que bonito texto.
passei para te desejar um 2006 cheio de paz e felicidade.
e que continuemos a visitar o cantinho uma da outra.
beijinhos
lindíssimo...
Um beijo muito grande e o desejo de um 2006 pleno de amor e sorrisos!
Deixo-te um beijo e o desejo-te de um ano em que cada dia o preenchas com sorrisos .
Ps: tenho tentado enviar-te emails mas têm vindo devolvidos
PPs: obrigado pelos teus olhares nos meus cantos
Belíssima prosa com que acabas 2005. E sim,há perguntas que nunca têm resposta, mas também nem tudo se explica, sente-se:) Tem um bom 2006. Beijos
A propósito de perguntas sem resposta, por aqui me fico:
Acabei, mesmo agorinha, (graças ao Ognid, da Catedral e da Amélia Pais, de Ao Longe Os Barcos De Flores)de descobrir que este dia 31 terá mais um segundo por imperativos de acerto cósmico...
Pois que esse segundo seja o do nosso abraço e que ele tenha o tamanho do mundo!
Feliz 2006! Cheio de MUITOS NATAIS! Até ao próximo ano! :)**
- ah a imensidão das gentes
que se crê pertença se consola e se agasalha
com tão fraco sol de pão migalha -
(in chegarás um dia atrasado, MJM)
Que 2006 sedimente só o que vale a pena e varra o que incomoda e desgasta.
O resto, o resto é ínfima parte de sorte e maioritariamente atitude e perseverança.
Até...
Não deu para ler o teu texto, que procurarei fazê-lo mais tarde.
Agora, quero desejar-te:
Um Ano Novo com muita Paz e Amor!
Uma saudação aos céus, um brinde à vida, um grito à Alegria!
Muito bonito...
Feliz Ano Novo! que 2006 te traga TUDO o que mais desejas
Beijo :)
Que o ano de dois mil e seis
que está hoje a começar
proporcione à amiga Seila
tudo quanto ela desejar
Um beijinho do Raul
que 2006 te traga tudo de bom. segue também um beijinho.
PS - tal como aconteceu com a wind, os mails que te mandei vieram devolvidos.
um texto lindíssimo (como tudo o que escreves .... não fora ainda o espírito do Natal e eu diria, invejosa: que raiva!)
E já agora, desejos, votos, (conselhos também), deixei-tos lá na minha casota;
vai buscá-los, são teus!
§(~_~)§ beijo da Afrodite
um 2006 cheio de coisas maravilhosas...
Ainda bem que sabemos de nós, em tarde que tenho como de magia em esplanada, com chá, e a presença de andarilhas(os), de quem gosto muito, que dão sentido à vida.
Com admiração deste Andarilho, que a abraça com amizade e ternura.
Até que enfim isto abriu... mas porque me esqueci e dei por ela que ao fim de meia hora abriu...
Já tinha tentado comentar e nunca consegui. Vamos ver se desta vez funciona...
Seila, o teu conto é formidável. Apesar de triste gostei dele, porque para além dos sentimentos que ele aborda é muito bem escrito, como de resto é habitual em tudo o que escreves.
Beijinhos
PS: já te mandei o poema por e-mail.
apenas porque o mail voltou a ser devolvio, deixo-te neste teu espaço o escrito:
É bom receber noticias tuas. Quanto aos e-mails devolvidos, já não os tenho, tentei uma ou duas vezes o reenvio e depois devem ter ido água abaixo, mas eram de teor natalício e cousas outras que já passaram.
O apelo que me fases , é mais difícil de satisfaze-lo, porque pode até parecer que sou um perito informático mas na verdade não percebo nada disto. Sou um simples curioso, daqueles que gostam de desmanchar um brinquedo e que no fim sobram sempre peças. Os últimos templetes são efectivamente meus, mas a linguagem HTML é retirada aqui e ali até dar certo. O que quer dizer que vou fazendo as coisas aos poucos com muitas cabeçadas na parede, mas sem ciência ou sapiência para transmitir conhecimentos. Posso isso , se me disseres mais ou menos o que pretendes posso tentar fazer um a teu gosto. Apenas com uma condição; não exigires prazo de conclusão ( eheheheh)
Na verdade, fui buscar alguns ensinamentos neste sitio:
http://www.w3schools.com/css/css_padding.asp ( verás que é verdadeiramente assustador!!!!!)
e neste
http://www.mandarindesign.com/ ( este menos assustador)
por tudo isto não sei quando se deve encerrar um blog, eu encerro-os quando sinto que estou eu próprio diferente, ou quando me começam a aborrecer ( vem dar ao mesmo). Também não tenho resposta para o espaço, O silêncio em cores de aguarelas tem posts de três anos e nunca senti perda de qualidade ou velocidade. Os olhos vagabundos ( de fotografias), teoricamente mais pesado também tem funcionado sem problemas. Julgo que apenas os blogues do sapo dão alguns calafrios aos seus utilizadores.
Em tudo que poder ajudar , não hesites, só se não souber ou não poder de facto, mas se isso acontecer digo-to com toda a sinceridade.
Fica um enorme beijinho de saudades,
Deste teu amigo meio estranho, meio esquizofrénico
zé
Voltarei. Bjs
BShell
Ora, viva! Desculpa o incómodo, mas hás-de ver se o meu desafio no Sete Mares te interessa.
Um abraço.
...e à respostas que nos dão que nunca perguntámos...e às vezes doem tanto...
buá buá, podias ter dito que só querias por uma foto....isso sabia dizer-te!!!!
Gosto mesmo muito. um beijo!
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