Dona de Encarnação passava na minha rua todas as quartas-feiras. Passava quando era a hora para levar meu de meio irmão mais caçula a ver menino ir prá escola.
Essa de Dona de Encarnação voltava na minha rua lá quase quando a noite já tentava fazer a tarde adormecer.
- Toda quarta-feira! Lá vai ela inchada de solteirice. Julga que é virtude! Vaca! Passa e nem olha!
Este era o falar de minha mãe quando passava Dona de Encarnação. Toda a quarta-feira, minha mãe arranjava jeito de estar na janela em cada um dos dois daqueles descritos tempos do dia em que ela passava. E nesses dois assomares de minha mãe, era o que ela falava o que disse ali a vocemecêas. E tão de alto ela dizia que Dona de Encarnação devia de ouvir. Era assim como um te esconjuro ou uma provocação ditada desde a janela de onde nos dependurávamos a ver passar. Eu era dada de pensar que a Dona de Encarnação era assim como que bruxa ou, ao menos, teria feito muito mal a minha mãe. E eu que dava em gostar dela. Escondida, no meu de não dizer nunca, que gostava dessa de Dona de Encarnação. Mesmo diante da nossa janela, Dona de Encarnação voltava de ligeirinho o andar e dirigia seu passo engordado pela sandália de tira debaixo do pano da saia rojando terra. Muito devagarinho, ela ia soprando terra com o pé até desaguar no buraco escuro, que minha mãe esconjurava, da porta da Igreja.
Minha mãe arrumada de casar com o pai do pequenino que era, diferente de eu, bem pretinho. Eu era, segundo minha mãe...eu era...como...eu vou mostrar como ela dizia a falar da minha cor de pele.
- Esta menina tem pele de atravessada. Suja. Ela nem é mulata. Suja de castanho que eu sou preta negra e o que dei de pai dela, o Dório morto, era preto lustroso.
Pronto já disse pra vocês como minha mãe fala. Eu era negra suja de pele... ela falava de convencer! esse pai que me fez, ela dizia, era preto lustroso. Cabra ! - pensava eu quando ela, assim como eu mostrei a vocês, falava de minha cor. Cabra mesmo que mãe pode ser!
Ah! Eu estava contando que Dona de Encarnação subia e descia aquela rua toda a quarta feira! Cabeça a minha! Cabeça cheia de história enrolada na vida da gente, dá nisto – a gente perde o fio na meada como fazia o meu irmão, aquele que era bem pretinho, quando ajudava minha avó Teresa a desenrolar meada.
Mas, mesmo que me pensem de enrolação contando, eu vou dar um jeito de explicar como é que era aqui nesta casa com uma janela de onde eu via Dona de Encarnação passar cada um de todos os dias ditos de quarta-feira. Essa casa era só de janela e porta olhando a gente ela de frente, ou seja, apontando o olhar nela, e virado o traseiro de vossemecêas para a Igreja que ficava mesmo em frente. Para o depois de entrar pela porta, e percorrido um corredor com uma data de portas que nem olhos olhando pela direita quem ia entrando, chega-se a ver que a casa era muito mais que ser casa de uma porta e uma janela. Era uma casa que quem entrasse, assim como fui dizendo, clamava, ao chegar ao fim do corredor: “que casarão!”. E eu comecei a falar do tamanho, neste caso grande, da casa, para poder dizer, sem ver olhar de espantamento que nem que fantasma lhes aparecesse, que a minha mãe, além de mim e do caçula preto de negro retinto, tinha debaixo de tecto mais seis filhos deste que foi de casar de papel e festa com conviva e bolo. Todo o pensar dela minha mãe era que se esquecesse ser eu nascida de uma parição resultada de um enrolar de pernas, um ejacular de jeito favor de paixão, de ai que bom que gosto tanto. E a natureza fez o resto que avó Teresa não ia com a cara da parteira que os tirava ainda antes de se bem pegarem no saco ventral da mãe. Disto tudo, ao que parece, eu sou! Eu, preta de castanho sujo, de pai balanceado entre o preto Dório e uma duvidação que me a alma amoldou de tremida e a mim a um escorregar na vida desviada de todos.
Se não fosse a Dona de Encarnação que minha mãe falava de não gostar, como eu mostrei a vocemecês, eu inda hoje que me julgava ser de defeito de terra me ter sujado quando minha mãe me pariu de Dório.
Eu mulata linda! Eu mulata, sim, filha do Pastor que se apaixonou! Pastor que passou na aldeia com tropa e era moço galante e minha mãe, além de preta de carne enxuta, era devota! É! Foi o que me contou em noite de calor e raio seco a riscar o céu, Dona de Encarnação. E chorava contando a eu. Ela teve tanto, muito amor, pelo padre pastor e nem que nunca se lhe podia pensar de assim fazer que nem minha mãe me fez. Mas se desabafavam de amigas. Ela, Encarnação, sabia que eu sofria. No tal dia, sentadas em segredo num banco da Igreja, me contou.
Por isso é que eu pensava, e me arrependo, mas pensamento voa. Por isso é que eu pensava assim como fui dizendo:
“Cabra! Cabra mesmo que mãe pode ser!”
:::::::::::::::::::::::
Vão ler em ESCRITOR FAMOSO e VOTAR os TRÊS melhores AQUI
estou lá com Prenhas e Silêncio maior
Essa de Dona de Encarnação voltava na minha rua lá quase quando a noite já tentava fazer a tarde adormecer.
- Toda quarta-feira! Lá vai ela inchada de solteirice. Julga que é virtude! Vaca! Passa e nem olha!
Este era o falar de minha mãe quando passava Dona de Encarnação. Toda a quarta-feira, minha mãe arranjava jeito de estar na janela em cada um dos dois daqueles descritos tempos do dia em que ela passava. E nesses dois assomares de minha mãe, era o que ela falava o que disse ali a vocemecêas. E tão de alto ela dizia que Dona de Encarnação devia de ouvir. Era assim como um te esconjuro ou uma provocação ditada desde a janela de onde nos dependurávamos a ver passar. Eu era dada de pensar que a Dona de Encarnação era assim como que bruxa ou, ao menos, teria feito muito mal a minha mãe. E eu que dava em gostar dela. Escondida, no meu de não dizer nunca, que gostava dessa de Dona de Encarnação. Mesmo diante da nossa janela, Dona de Encarnação voltava de ligeirinho o andar e dirigia seu passo engordado pela sandália de tira debaixo do pano da saia rojando terra. Muito devagarinho, ela ia soprando terra com o pé até desaguar no buraco escuro, que minha mãe esconjurava, da porta da Igreja.
Minha mãe arrumada de casar com o pai do pequenino que era, diferente de eu, bem pretinho. Eu era, segundo minha mãe...eu era...como...eu vou mostrar como ela dizia a falar da minha cor de pele.
- Esta menina tem pele de atravessada. Suja. Ela nem é mulata. Suja de castanho que eu sou preta negra e o que dei de pai dela, o Dório morto, era preto lustroso.
Pronto já disse pra vocês como minha mãe fala. Eu era negra suja de pele... ela falava de convencer! esse pai que me fez, ela dizia, era preto lustroso. Cabra ! - pensava eu quando ela, assim como eu mostrei a vocês, falava de minha cor. Cabra mesmo que mãe pode ser!
Ah! Eu estava contando que Dona de Encarnação subia e descia aquela rua toda a quarta feira! Cabeça a minha! Cabeça cheia de história enrolada na vida da gente, dá nisto – a gente perde o fio na meada como fazia o meu irmão, aquele que era bem pretinho, quando ajudava minha avó Teresa a desenrolar meada.
Mas, mesmo que me pensem de enrolação contando, eu vou dar um jeito de explicar como é que era aqui nesta casa com uma janela de onde eu via Dona de Encarnação passar cada um de todos os dias ditos de quarta-feira. Essa casa era só de janela e porta olhando a gente ela de frente, ou seja, apontando o olhar nela, e virado o traseiro de vossemecêas para a Igreja que ficava mesmo em frente. Para o depois de entrar pela porta, e percorrido um corredor com uma data de portas que nem olhos olhando pela direita quem ia entrando, chega-se a ver que a casa era muito mais que ser casa de uma porta e uma janela. Era uma casa que quem entrasse, assim como fui dizendo, clamava, ao chegar ao fim do corredor: “que casarão!”. E eu comecei a falar do tamanho, neste caso grande, da casa, para poder dizer, sem ver olhar de espantamento que nem que fantasma lhes aparecesse, que a minha mãe, além de mim e do caçula preto de negro retinto, tinha debaixo de tecto mais seis filhos deste que foi de casar de papel e festa com conviva e bolo. Todo o pensar dela minha mãe era que se esquecesse ser eu nascida de uma parição resultada de um enrolar de pernas, um ejacular de jeito favor de paixão, de ai que bom que gosto tanto. E a natureza fez o resto que avó Teresa não ia com a cara da parteira que os tirava ainda antes de se bem pegarem no saco ventral da mãe. Disto tudo, ao que parece, eu sou! Eu, preta de castanho sujo, de pai balanceado entre o preto Dório e uma duvidação que me a alma amoldou de tremida e a mim a um escorregar na vida desviada de todos.
Se não fosse a Dona de Encarnação que minha mãe falava de não gostar, como eu mostrei a vocemecês, eu inda hoje que me julgava ser de defeito de terra me ter sujado quando minha mãe me pariu de Dório.
Eu mulata linda! Eu mulata, sim, filha do Pastor que se apaixonou! Pastor que passou na aldeia com tropa e era moço galante e minha mãe, além de preta de carne enxuta, era devota! É! Foi o que me contou em noite de calor e raio seco a riscar o céu, Dona de Encarnação. E chorava contando a eu. Ela teve tanto, muito amor, pelo padre pastor e nem que nunca se lhe podia pensar de assim fazer que nem minha mãe me fez. Mas se desabafavam de amigas. Ela, Encarnação, sabia que eu sofria. No tal dia, sentadas em segredo num banco da Igreja, me contou.
Por isso é que eu pensava, e me arrependo, mas pensamento voa. Por isso é que eu pensava assim como fui dizendo:
“Cabra! Cabra mesmo que mãe pode ser!”
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estou lá com Prenhas e Silêncio maior
7 comentários:
Genial este conto. Consegues ainda durpreender-me. Maravilha mesmo. As palacras, a descrição, as imagens que passas, tudo é muito bom:) beijos
Qe dizer? "sei lá"... Li com avides.Beijinhos. Vou passando
Fui ler. Gostei deste e do muito que por lá li ontem. Tens uma escrita que eu diria inconfundível, Seila :-)
Beijinho grande
Muito bem trabalhado... e então as imagens que nos dás têm o teu estilo inconfundível.
Quanto aos votos... também sou concorrente, por isso sou suspeito! Eheheheheeheh.
Foi um momento agradavel de leitura esta "mulata". Beijinhos.
Mulatas sujas-de-terra sem afinal terem algum dia sido sujas...
Mães cabras...oh se as há!Não devia haver mas há.
E pés negros no chão, de saias rodadas e tambores ao fundo de vidas difíceis de sanzala e terra batida e bairros da lata...e santos...e cheiros a velas.O mundo não se pode dizer a preto e branco tem que se dizer a cores mais cores.A preto e branco só as teclas dos pianos de muitas vezes melodias tristes. ;)
LINDO! LINDO! LINDO!
Já li esta porra ene vezes e está sem beliscadura de se dizer mais nada! É de se ler e de se pedir mais!
Não tenho tido nenhum tempo para seguir a net. Que pena, pois nem sabia desse concurso nem dessa votação.
Sabes bem como eu deliro com estes textos teus. Fosse eu quem mandasse, e atava-te à cadeira e não fazias mais nada na vida, mulher!
Pega lá um beijo marafado e sujo de admiração!
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