Joel tartamudeava sentado no banco corrido, o corpo quase deitado sobre a mesa, a cerveja a meio beber.
Não estava bêbado. Nunca se embebedara. Gabava-se disso. Sempre sóbrio na sua história de moço de fretes, bar aqui bar além, que ele achava, e sempre de outros assim ouvira, o tino não lhe dava para mais. Uma história de trinta e dois anos carregando cerveja para os outros beberem. Recolhendo as garrafas que os outros jogavam. Garrafas, no areal das noites de farra. Joel apanhava-as. Caixas e caixas de vazio no sol de cada Verão.
Hoje ele nem ainda apanhou uma garrafa. A farra durou até tarde. Hoje, ele e a sua cerveja conversando.
Semicerrou os olhos e reviu todos os acontecimentos do fim da madrugada. Um a um. Ninguém notara que ele ali estava, desprendido da vida, apenas querendo ver como ela pode acabar num apenas de repente. Ficou a olhar. Todos fugiam de lado a lado. Pareciam os coelhos soltados na avó. Ele viu tudo. Os tiros. O sangue. A areia vermelha no sol que despontava.
Estava ali sentado desde que tudo acontecera. O cheiro a injustiça enchia-lhe as narinas. Joel cerrava os dentes. A pele avermelhava em torno dos olhos. Sempre avermelhava de raiva na zona onde o queimado do sol é mais ameno e deixa ver restos de uma pele rosada do menino loiro.
Alguém se aproximou da mesa. Joel sentiu-o sentar-se aconchegando o banco às pernas. Ouviu o toque do copo dele no seu a quebrar o silêncio no bar abrigado na duna, a soar por sobre o ruído do mar. Joel fitou o homem sentado em frente. Olhou-o a beber a cerveja em pequenos goles. Esperou que ele lhe perguntasse alguma coisa. O homem olhava as ondas despedaçarem-se na falésia ao longe. Joel percebeu o seu engano. Uma gota transparente assomou no canto dos olhos.
Não viriam perguntar-lhe nada. Nada do que Joel bem vira. Aquele retirar da vida de modo tão simples que ele nem se assustara. Sentia a injustiça a planar no ar. Sempre. Joel fungou baixinho. A ele o tino não dava para mais. Diziam...
Não estava bêbado. Nunca se embebedara. Gabava-se disso. Sempre sóbrio na sua história de moço de fretes, bar aqui bar além, que ele achava, e sempre de outros assim ouvira, o tino não lhe dava para mais. Uma história de trinta e dois anos carregando cerveja para os outros beberem. Recolhendo as garrafas que os outros jogavam. Garrafas, no areal das noites de farra. Joel apanhava-as. Caixas e caixas de vazio no sol de cada Verão.
Hoje ele nem ainda apanhou uma garrafa. A farra durou até tarde. Hoje, ele e a sua cerveja conversando.
Semicerrou os olhos e reviu todos os acontecimentos do fim da madrugada. Um a um. Ninguém notara que ele ali estava, desprendido da vida, apenas querendo ver como ela pode acabar num apenas de repente. Ficou a olhar. Todos fugiam de lado a lado. Pareciam os coelhos soltados na avó. Ele viu tudo. Os tiros. O sangue. A areia vermelha no sol que despontava.
Estava ali sentado desde que tudo acontecera. O cheiro a injustiça enchia-lhe as narinas. Joel cerrava os dentes. A pele avermelhava em torno dos olhos. Sempre avermelhava de raiva na zona onde o queimado do sol é mais ameno e deixa ver restos de uma pele rosada do menino loiro.
Alguém se aproximou da mesa. Joel sentiu-o sentar-se aconchegando o banco às pernas. Ouviu o toque do copo dele no seu a quebrar o silêncio no bar abrigado na duna, a soar por sobre o ruído do mar. Joel fitou o homem sentado em frente. Olhou-o a beber a cerveja em pequenos goles. Esperou que ele lhe perguntasse alguma coisa. O homem olhava as ondas despedaçarem-se na falésia ao longe. Joel percebeu o seu engano. Uma gota transparente assomou no canto dos olhos.
Não viriam perguntar-lhe nada. Nada do que Joel bem vira. Aquele retirar da vida de modo tão simples que ele nem se assustara. Sentia a injustiça a planar no ar. Sempre. Joel fungou baixinho. A ele o tino não dava para mais. Diziam...
11 comentários:
Mas joel viu tudo...ninguém viria perguntar-lhe o que vira...por isso fungou baixinho...
Conservará para sempre esses momentos e essa sensação de injustiça! Como pode uma vida tirar-se assim...terá pensado...ou não!
Mas chorou...
teus textos me "tocam"...
Beijos mil, às carradas...
BShell
Por vezes também me sinto Joel.
Mas de tanta caixas vazias apanhadas pela vida fora, essas areias de que falas, vermelhas e negras, vacinam quem passa por elas.
Continuo a fungar e a sentir o que não está certo. Tento remar contra, mas sou mais Joel do que aquilo que pensava. Até um dia dia. Digo eu.
É preciso dizer que gostei?
ps - já não te "vejo" há tempos, sei lá... (trocadilho)
Mais um texto incrível, onde se visualiza tudo e se sente. Chega a arrepiar. Beijos
Por vezes a vida vem e vai-se sem darmos por ela.
Detesto vê-la escoar-se entre os dedos como areia. Preciso de lhe sentir cada grão
Beijinho de saudade
Desconhecia este seu blog, até agora e devo dizer-lhe que gostei dos textos que por aqui encontrei. Continue!
Mhmmm... também gostei!!!! Mas ainda não terminou, pois não?!?! Fiquei essa impressão... beijinhos
impressionante testemunhos de um sentir ignorado. Bom f.s. Bjs e ;)
O teu texto (como muitos outrs que escreveste) é um flash de um momento. Mas a exposição da foto é tal que nos faz ver todos os pormenores. Muito bom. Mas não é sempre assim? Beijão
Onde vais buscar as tuas personagens, reais ou não? Deves ser uma pessoa extremamente observadora. Apanhas toda a cena e passa-la para nós. Eu agradeço.
Oh algarvia de má raça! Então tu deixas que estes gajos venham colocar publicidade nas caixas de comentários? Largueza com eles!
Está tudo bem por aqui? :-)
Bolas. Bolas.
Arrepiante. Subreptícia, a mensagem contida. As sombras humanas...
Vinha alegre e lampeira deixar-te beijos e apanhaste-me pelo lado que dói. És tramada.
Kisses dos meus a desfazerem-se contra a tua falésia imponente da escrita
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