terça-feira, 5 de julho de 2005

tesouro

Levei-me a ver o mar e estava acastanhado.
Levei-me a ver os prados e estavam amarelos de secura.
Subi aos altos montes e a neve derretia nas vertentes vermelhas.
Olhei o céu e o azul tapara-se de um amarelo que crepitava.
O sol no alto crescera num tamanho e cor como se fora pôr-se no horizonte.
Levei-me a ver os rios e andei a pisar leitos secos e em pedra. Sem nem lodo.
Sentei-me debaixo de uma árvore e não havia sombra.
Levei-me a espreitar as fontes nas serranias e esfarelavam terras amarelas. Lavas.
Levei-me a ver cidades e encontrei os vermes e as gentes convivendo.
Dependurados das janelas. Desfalecidos. Mortos. Deambulando enlouquecidos.
Levei-me a ver de novo o mar e este fervia.
Sentei-me na areia que ofuscava. Pus-me de joelhos.
Cruzei as mãos no peito e pedi-Te perdão.
Depois, eu que nunca soube oração, vi-me a rezar.
Pedia que nos perdoasses.
Agradecia-Te pela Vida.
(...)
Quando acordei a chuva tamborilava na janela.
Nunca mais parei de agradecer-Te nos essenciais tesouros que nos deste.

Imagem de G. Klimt

12 comentários:

wind disse...

Muito forte! beijos

bertus disse...

Dos tesouros que não guardei
para maior dos mesus castigos
foi não guardar os tesouros
dos que foram meus amigos.

Ó pá! Confessa lá que resta não foi muito profunda?!

Abraço.

lique disse...

Terrível, o cenário que pintas, quase apocalíptico. E eu, que já esqueci as orações há muito tempo, até acho que devíamos pedir perdão sei lá a quem por todos os crimes que temos cometido contra o meio
ambiente que nos acolhe.
Beijos

agua_quente disse...

Terríveis palavras as tuas, das quais propositadamente a beleza foi arredada. Seca na natureza, secura na escrita. Rezamos? Humm... não sei. Beijos

Humor Negro disse...

Então algarvia? Já começou a invasão?

mjm disse...

Vinha cantar as julheiras
Trazer-te um pouco de riso
Tudo em volta eram clareiras
Incumpri o compromisso

Perdão te quero pedir
Nem sei s'um di'ò t'rei cá
Nunca mais me deu p'ra vir
Kissar a querida Seilá

Foi preciso ensandecer
Nas rimas de pé quebrado
Log'hoje c'o mundo a ter
Mais um infeliz atentado

:(

bertus disse...

..ah! mulher...se o Chico te apanha! Já lhe escrevi (ao Chico) e desfiz todas as dúvidas que o homem pudesse ter...àcerca da minha pessoa.

bertus disse...

...tá descansada que não te faço mais rimas quadradas...
para não te enfartares...
Tem um bom fim de semana.
Abraço.

Anónimo disse...

Um poema que nos aponta para a destruição daquilo que mais belo e melhor temos: a Natureza!

Mas enquanto não soubermos ver a dádiva que nos foi ofertada e, respeitarmos o Planeta, tanto como respeitamos as Pessoas, ele irá sendo destruído... até nada restas, a não ser a terra infértil, o leito dos rios secos, e as lágrimas que serão vertidas, por nada possuirmos...

Um abraço

Nilson Barcelli disse...

Bonito, muito bonito o que fizeste neste texto.
Descreves o apocalipse e no fim consegues um milagre.
Mas os milagres não existem... para mim, que sou ateu nesse domínio.

Sorte tenho eu, que apnho chuva dia sim dia não.

Beijinhos e bfs

Anónimo disse...

Isso será não mais, que o resultado, daquilo que destruimos para satifação do egoísmo latente em todos nós. Acho que o perdão que pedes, não será mais do que uma oração abrangente a todos nós... Será que seremos mesmo perdoados?

Anónimo disse...

Beijos e um bom fim de semana!

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

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meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

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meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

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ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein