quarta-feira, 6 de abril de 2005

Cadências


As lágrimas soltam-se-te. Ficas olhando-te nesse estar chorando. Espantas-te.
E nem sabes o que te faz assim. E nem entendes. E nem te explicas.
Quando te explicaste a ti sobre ti?!
Quando te admitiste chorando?!
Mas sabes que o fizeste... não! não!
de modo algum! tu não choraste!
Hoje...sabes que o fazes. Espantas-te.
Percebes que este chorar é um de muito longe...e ao mesmo tempo...
ai! ao mesmo tempo... este chorar é um... assim como um aviso.
Tu sentes.
Quando elas se te soltam, sentes.
Um tempo que não conheces.
Um tempo que te aguarda...te permite ...te pede que te escorras lágrimas pelo rosto.
Olhas-te como sempre te olhaste. Mas esse chorar avisa-te.
Tu estás deixando-te a ti. E a despedida dói. E as lágrimas soltam-se.
E olhas quem te está em volta. Indagas da nossa prontidão na percepção de ti.
Tu que te soltas devagar desse eu que olhamos.
Olhas-nos espantado de te veres ser visto quando tu, tu mesmo, estás partindo de ti. Partindo devagar. De um modo de partir que eu, que te vejo e te conto, com ele me espanto...me sofro...me não entendo.
E eu me vejo chorando.
Eu... num choro des-me-percebendo.

13 comentários:

Conceição Paulino disse...

Muito belo e triste texto. Mas bem escrito, passa toda a contençao de emoção vivida.Bom resto de semana. Bj grande

Anónimo disse...

No (re)encontro com ele próprio descobre emissor de lágrimas. Que linguagem é essa a daslágrimas? Que discursoé esse que as crianças e as mulheres conhecem tão bem? O rosto molhado anuncia o quê? E como explicar aos outros essa nova prática? As mulheres,elas sabem...lembras Piaf no seu enternecimento perante o choro masculino, citada por Barthes "Mais vous pleurez Milord!". E tu como podes sabê-lo?

Seilá,agora apetece-me pegarnos teus textos,deformaque podes considerar abusiva...mas são tão apelativos ao meu imaginário/ vivências...Um bom dia para ti :-)

Anónimo disse...

Seila,
Pareço um puto a enxaguar uma lágrima marota que me toldou os olhos...
Só tu para me comoveres...
Belo, mas que belo texto... com sentimento e poesia!
Ai, mulher, dás cabo de mim...
Um grande abraço

bertus disse...

...de mim não dás tu cabo, não!! Xiça! que finalmente apanhaste a roupa...que já devia estar para o encardido...

Do texto, está tudo dito; é muito bom e tu sabes disso. Não chorei ao lê-lo (às vezes choro e admito-o perfeitamente como a coisa mais natural deste mundo), porque hoje não estou para aí virado...
Intés!!

darkman disse...

triste mas bonito...

ashistorias.blogspot.com
ospensamentos.blogspot.com

wind disse...

Que tristeza, mas lindo texto. Fico em silêncio a sentir. Beijos

lique disse...

Ai, mulher, tu matas-me com estes textos sofridos, vividos,saidos directamente da alma! Ler-te é uma experiência que nos pode deixar deliciados ou totalmente angustiados, nunca indiferentes!
Obrigada pelas prendas que lá tens deixado e um beijão!

JPD disse...

olá seila

Abordagem ao quotidiano triste...Está bem.
O texto é sincero. Gostei.
Bjs

Raelma Mousinho disse...

Às vezes o choro é uma morte e uma ressurreição.. é mergulhar no ponto mais fundo de uma emoção triste, ou em uma sublime alegria... é deixar correr solto pelos olhos as testemunhas do peito: as lágrimas.
beijosss,
Rah e Soul =)

VdeAlmeida disse...

Quando cá venho é sempre um desafio aos sentidos. Fico sempre todo eriçado, mulher, bolas...Pele de galo (sim, que de galinha, são as mulheres)
A sério, é assim mesmo. Tens esse condão, Seila. Deixo-te um beijinho. Sem lágrimas, mas comovido

Nilson Barcelli disse...

Já chorei também. Mas não sei porquê... Sabes que tenho atravessado o rio do esquecimento e dá nisto. Vou ler outra vez.
Agora percebi, chorar é uma foma de nos encontrarmos, de nos avisarmos, de nos espantarmos, de nos sentirmos. Ou o seu contrário.
Eu diria que também é, mas o teu post tem endereço, ainda que porventura imaginário.
Gostei de todo o post, principalmente do final, quando cais num choro des-te-percebendo.
Eu percebi-te no teu des-te-percibimento.
Beijo.

LUA DE LOBOS disse...

lágrimas que saltam quando menos se espera e deseja...
texto fabuloso:)
xi
maria

Amaral disse...

Estes estados de espírito são muito consequência daqueles espinhos que a mente nos presenteia, quando ficamos mais carentes.
Há muita gente que consegue fazer frente a estes "espinhos", fazendo vir ao de cima a consciência de que "sabe" o que é esse espinho e conhece os seus objectivos. Depois, é só "não lhe ligar" e viver a realidade do momento. Podemos criar tantas coisas bonitas, tantos momentos giros, tantos risos...

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

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meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

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meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

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ai meu Abril, meu Abril...




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"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein