sábado, 19 de março de 2005

Pai?!

Passo a passo
fazes-te ao terreno
arrojas-te à despedida
Começas por ti
Resolveste assim há muito
Dizias:
Partir é deixar-se para trás e renascer
Assim vais fazer
Despedes-te sobretudo de ti
os outros vão-te vendo partir
Sorris a uns...aconselhas a um outro
Recebes abraços ...abraças
Mas gostas e precisas de coisas
As coisas que te são tu
Aquele pedacito de areia junto ao rio
(que bem dormias nu depois do banho!)
O rio sombreado de um castanheiro
O banco verde sob a amoreira....
(lutos de outros em ti
dois soluços e uma cara lavada)
Andas nas despedidas
percebes

sabes
sentes
tens que ser rápido
tudo antes de pôr o sol
Baixando devagar
confunde-te essa luz
Achas graça
sorris
recordas
(um daquilo um daqueloutro)
A cidade que te acarinhou
abandonado aqui...tu...
Não entendes
Pedes ajuda
Choras

Fazes o teu luto
na enorme solidão de ti.





10 comentários:

Amaral disse...

Escrever de um pai é uma tarefa que exige muito amor, muita coragem, muito respeito.
É exactamente tudo isto que eu sinto neste texto, escorreito e sentido.

lique disse...

Li e reli. Deito-te um beijo grande.

sotavento disse...

BENFIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIICA!... :)

Anónimo disse...

Deixo-te um beijo pela sensibilidade deste poema.

Anónimo disse...

Um Pai que anda devagar, aturdido pela falta de companheira de mais de 50 anos anos. É preciso ir a bancos, preencher impressos do IRS, pagar contas de telefone. Tanta coisa...e ele está tão triste e tão cansado! As noites são inquietas naquela cama que foi de amor e agora é de solidão. Onde estão as chaves? É preciso comprar fruta, não há fruta em casa...Ele sai arrastando os pés. Voltará pouco depois, ainda anoitece demasiado cedo...
Seilá, escrevi isto sem saber explicar como. Adorei o poema que escreveste ao teu Pai. O meu comentário? Deve ser um desabafo meio insano nascido de uma madrugada branca.

bertus disse...

...como sabes eu sou um brincalhão, sempre de carinha na água e a ironizar com tudo e com todos. Mas também sei dos limites da oportunidade para.
Hoje, as tuas palavras não permitem esse tipo de abordagem tão ao meu gosto. Mas não me lamento, porque é sempre um prazer ler-te; como é o caso vertente.
Abraço amigo, bom domingo e intés!!

sotavento disse...

Ontem festejava por cima da tua apreensão (pode ser que te tenhas marafado e isso é bom :)), hoje quero dizer-te que imaginar a dor não é senti-la, por isso deixo-te uma dose XXL de parvoíce que te faça dançar um sorriso!... :)

wind disse...

Mais um belo poema (para variar):) beijos

Português desiludido disse...

Revejo nestas linhas o Pai que já não tenho!Obr

António Botel disse...

todos têm ou já se foram...mas, o mistério da perda é impensável antes de o perder

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

desafio dos escritores
meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

ABRIL DE 2008
meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

Abril de 2009

Abril de 2009
ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein