segunda-feira, 7 de fevereiro de 2005

as amendoeiras reflorescem

Mesmo que lhe tivessem dito
Mesmo que tivesse visto
Mesmo que tivesse ouvido
Tendo ouvido o que disseram
Tendo visto e ouvido o que julgou ter visto e julgou ter ouvido
Mesmo assim, que ficou realmente a saber sobre o que se passou naquele fim-de-semana?
Mesmo assim, que ficou a saber sobre aquela pessoa?
Depois, passaram-se mais aconteceres
Depois, passaram anos sobre esse fim-de-semana
Passaram outros fins-de-semana e dias de semana e noites de dias de fim-de-semana e ditos úteis
E hoje que fica a saber juntando todos os pedaços vistos, contados, ouvidos?
Hoje, tantos anos depois daquela vez em que mesmo que lhe tivessem dito, mesmo que tivesse visto, mesmo que tivesse ouvido, ficaria, como hoje, sem saber nada sobre o que viu, ouviu, escutou e sobre o que se passou com aquela pessoa.
E hoje numa segunda-feira de um outro Carnaval, volta a tentar entender o que, repetido, presente, quase se diria tão natural como ser de jeito que é cada um diferente de cada qual, sente apesar de tudo e, sobretudo apesar do repetido, igual, constante. Hoje teoriza. Não se distancia. Não pode a dor a esse ponto permitir. Mas afasta-se, isso pode. Olha de um afastado de querer entender. E a teoria leva por estranhos meandros, carreiros do ser, azinhagas, cruzamentos, fluxos de sentir, emoções de.... Não. A teoria não conduz a mais do que um enorme e convulsivo ponto de interrogação empanturrado de porquês, de comos, de quando, de até quando.
Fica, outra segunda-feira de Carnaval, olhando aquele olhar de azul que olha numa dureza de olhar o vulgar e se alonja sereno e meigo em territórios...que territórios serão?!
Não. Ainda não é hoje que consegue. Hoje sabe dizer que não entendeu acontecido... e dizer a dor - não sabe contar... esta não na sabe...
As noites não foram as suas
Os medos não foram seus
Os delírios não os sentiu
Os olhares dos outros não os viu
Nada se passou consigo
Nada se passou a não ser o seu medo
A não ser a sua dor
Nem a dor da pessoa a sentiu
A dor dessa pessoa, se dor, era distante, era não sua
Então se souber um dia contar...
Se uma qualquer segunda-feira de um outro Carnaval souber dizer... será de si que dirá
Mas sabe que algo se passou
Mas sabe que nada nunca mais foi o que era antes
Antes de se ter apercebido
Porque, isso entende que seja assim, o algo seja o que for que se estatelou ali naquele olhar que se afundou num olhar outro de muitos olhares diferentes, esse algo era germe desde o sempre. Esse sempre do antes de aquilo se manifestar e que, se deixasse, lhe tolheria o seu ser de culpas porque nesse antes poderia ter havido um talvez que permitisse outro diferente depois... Recusava pensar assim, mas...como entender o que estava na génese? Como entender o cadinho propiciador da (quela) evolução?
Chora. Não um choro de lágrimas. Um outro.
As amendoeiras floriram.


As amendoeiras florescem no Carnaval.
Parecem iguais e são tão diferentes estas das outras flores dos anos anteriores.
As amendoeiras florescem.
As máscaras colocam-se e retiram-se.
As feridas saram.
A vida é este continuum de diferenças que teimamos em querer semelhantes.
Os ciclos ajudam a viver.
Mas os ciclos terão que ser reconstruidos quando se quebra a sua aparência de igualdade.
Aparência.
Realidade.
O ponto de interrogação carregado, empanturrado de comos e porquês.
A vida a fluir.
O tempo.
Os ciclos.
Amar o olhar que julgamos afundado.
mas...que olhar afinal se afundou?
É... andará cada um dos todos ou andarão todos os olhares afundados e há olhares que sobressaem, sobrenadam, diferentes, na igualdade dos olhares que jazem olhando todos os dias o mesmo de modo igual?!


22 comentários:

Nia disse...

Na minha terra são as mimosas amarelinhas que reflorescem todos os Carnavais.Mesmo de olhos fechados reconheço o cheiro e a cor das mimosas.
Aqui entre os prédios, apercebi-me ontem do Carnaval por uns putos parvos de carro, a conduzirem em sentido contrário ali na Avenida, mascarados e pendurados nas janelas dos carros.

As tuas amendoeiras refloresceram...e é bom não é?Mesmo que esta segunda -feira de Carnaval traga histórias acontecidas mas não explicadas.Também, quantas vezes nos dão explicações que não entendemos?Cada um tem a sua verdade.E a verdade nunca é só a preto e branco.
E depois há as saudades de um olhar...de uma palavra..de um cheiro...Mas , olha, há outro cheiro...o das amendoeiras a reflorescer.Há um outro olhar agora...um olhar rosa clarinho.

Jorge Castro (OrCa) disse...

Porque não te enviarei flores virtuais, pois só gosto delas vivas, deixo-te apenas um cumprimento que destino àqueles com quem tanto me apraz cruzar estes caminhos...

E porque o tempo pouco sobra para espreitar, quanto mais para comentar, há que aproveitar estes bocadinhos que o tempo nos deixa para brincar ao Carnaval, com os cumprimentos e afectos do OrCa:

Desta vida em correria
Sempre a dar a cara à luta
Na vida tanto se adia
Que nos sabe a vida a pouca

Mas somos filhos da vida
Somos desta e não da outra
Aqui deixo um abraço à ida
Outro deixarei à volta...

bertus disse...

...estou de acordo com a Nia ("e tu que não estivesses! que vocês devem ser unha com carne", saltas logo tu que também gostas de dizer coisas que não te fartas...)apesar de tudo, as amendoeiras reflorescem e os dias que aí virão nunca serão iguais aos que já se foram; os jogos de palavras que não se poderiam fazer a partir daqui...eu sei; e não sabendo de fonte segura das alegrias (e das dores, das dores que se memorizam mais agudamente) dos outros, calculo-as, porque as palavras não sendo a realidade, não mentem, narram histórias da nossa história e sendo a nossa memória de dia para dia, de ano para ano, de geração para geração...(re)florescem; sempre.
Um abraço amigo. Intés!!

sotavento disse...

Só te digo que cada vez há menos amendoeiras!... :(

wind disse...

E nunca saberá...:)

Abc Dário disse...

Gostei de conhecer o teu blog, minha cara conterranea.
Obrigado pelo imenso destaque que dás às letrinhas. Elas agradecem. :-)

lique disse...

O florescer das amendoeiras, o renascimento da vida. Os ciclos da vida curam ou, pelo menos, servem de paliativo a muitas feridas. Mas nem sempre respondem a todas as interrogações. Beijão, mulher.

P.S. mandei mail :)

Manuela Neves disse...

Lindíssimo Texto.
PARABÉNS. Afinal está tudo direitinho e belíssimo.
Tal como as flores das amendoeiras no ciclo da natureza, " ... NADA SE CRIA NADA SE PERDE, TUDO SE TRANSFORMA. " BJKS.

Unknown disse...

As amendoeiras reflorescem sim minha amiga. Todos os anos. A vida renova-se, tudo muda. E a vida também. O que era ontem já não é mais hoje e o amanhã será diferente. Porque não melhor? Um beijo grande do teu amigo.

Lady disse...

São tão bonitas as amendoeiras... pouco interessa se são iguais ou diferentes, em ciclos que se repetem... aparentes ou iguais, são bonitas e pronto!!!! :) beijinhos

BlueShell disse...

Saberá..algum dia? Algum outro Carnaval?...pelo menos consegue distanciar-se...e as amendoeiras...lindas...permanecem...até quando^???
Jinho, BShell

mfc disse...

Tudo é relativo, tudo se renova... só o nosso olhar é que é único e imutável!

bertus disse...

...pois, deves julgar que de repente fiquei cégueta (salvo seja!) e deixei de poder ler! Atão aquilo faz-se, lá no blog da minha amiga? a hostilizar-me daquela maneira, com toda a gente que por ali passa a ler aquele enxovalho a um mui digno e nobre Porquinho da India?!...por acaso apanhas-me bem disposto e entre o caminho do blog dela até ao teu, vim a pensar: "desta escapa, na próxima temos o caldo entornado!"
E já agora: que raio de gatafunhos prantaste no meu blog? aquilo é japonês arcaico ou alemão-galaico?!



Abraço amigo e intés!!

Alexandre de Sousa disse...

Sempre que venho deliciar-me com os teus textos, e é já um hábito adquirido, tenho que vir sempre equipado com uma botija de oxigénio. Mulher, tua escrita, de tão intensa e absorvente, deixa uma pessoa sem respiração. Adorei as amendoeiras, como sempre.

Nia disse...

SEILA...vim atrás dele (ELE) porque ele ameaçou que vinha aqui, e vinha de olhos semicerrados desancar-te...Não vim para te defender..vim só para ver a zaragata!Tão má que eu sou!:)
Mas afinal, o "tal" esbarrou com as amendoeiras em flor e ...serenou...oooooooh!:(

Anónimo disse...

Boas! Que tal o Carnaval? Acho as amendoeiras em flor, lindíssimas! Beijokas e vai aparecendo.
http://leaderlock.blogs.sapo.pt/

Micas disse...

Na minha terra não são amendoeiras, são mimosas. Que saudades que eu tenho da encosta de Stª. Luzia toda amarelinha por esta altura...Grata por ma fazeres recordar e pelas tuas amendoeiras em flor, começo aqui o dia com um sorriso nos lábios. Beijinho

Anónimo disse...

Seilá,
Posso fazer uma birra?!!!
Não comento mais o teu blog...(não sei como se põe a língua de fora!) pela simples razão que não me ligas nenhum!!!! Nem no MSN... ora toma!!!
Será que devo assinar esta provocação?
Pois assino:
José Gomes

Unknown disse...

Menina já fiz o post do 'Dildo'. Está lá, pronto para ser apreciado e... comentado.
Beijos. Depois volto para ver com atenção este teu post.

Anónimo disse...

Não perdemos o fôlego quando te lemos, linda. Guardamo-lo muito bem guardadinho, cá dentro, para depois o soltarmos num suspiro de encantamento e alguma inveja. Pronto, só queria dizer isto. beijinhos muitos :))
Cinda

VdeAlmeida disse...

Sabes que solto sempre um suspiro quando acabo de te ler não sabes? E hoje senti o cheiro das amendoeiras em flor pelas tuas mãos. É bom passear contigo de mão dada. Um abraço meu :-)

mjm disse...

As máscaras das árvores!... Quem as vê assim vestidas, as confundiria com neve... (onde é que eu já li isto? rss)
Até de olhos fechados se daria por elas. Mas eu, abri-os!
Belo texto. E que saudades de Primavera. Thks pelo cartão de aviso. Kiss

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

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meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

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meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

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ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein