Tremia-lhe uma voz de espanto. Ou a voz seria, antes, um abafado choro?! Ou seria grito há muito calado?! De onde vinha aquele ruído de silêncio?! De onde aquelas cores espalhadas em seus olhos?!
Olhei as mãos nos ombros dele. As mãos não tocavam. As mãos espantavam-se e gritavam e choravam. As mãos num silêncio tão grande como os olhos. As mãos mais pedindo que dando ou pedindo e doando tal era o espanto!
Olhei-lhe os braços deslizados no corpo. Os braços afagando o peito dele. Os braços desnudados transparentes emanando luz de um de dentro. Os braços adormecidos em gesto que nem era abraço, nem afago, nem sequer um apoio, um encosto.
No silêncio recoberto de cores e luz, dois corpos. De dentro do silêncio esboroou um tremor.
Olhei os dois. Olhei os corpos deitados. Inerte ele. Tremor seria dela.
Olhei de ver. Cerradas, as mãos, antes abertas, eram dois punhos. Dois punhos de veias muito de azul sovando o peito dele. Dois punhos batendo. Tremia o corpo dela. A boca do grito calado que soara antes, abria e fechava. Os olhos que emanavam, há instantes, o que me parecia cor, abriam-se em espasmos e deles desciam transparências acumuladas em bagas. Os punhos socavam. Os braços, antes iluminados, eram, agora via, dois nervos tensos.
Saí de mansinho. Deixei de olhar. Continuei a ver.
Era um silêncio de antanho. Eram nunca ditos. Eram nunca chorados. Era a perda do nunca doado. Era a dádiva do não recebido. Era o grito calado de muito passado. Era o tremor/temor de já não haver tempo. Era silêncio do silêncio. Não eram lágrimas eram restos de não sonhados.
Afastei-me.
Na rua trovejava. Caía chuva.
A Natureza chorava e tremia em tempo.
16 comentários:
Belo texto em registo onírico. A narradora/actora expressa-se e expõe-se. Lindo. Bjs e ;)
... e eu sonhava.
bj
...é de boa política não fazer comentários irónicos ácerca de um texto desta natureza. A autora pode não achar piada nenhuma e depois tenho-a à perna por um ror de tempo. Não quero isso, que dela sou amigo. E admirador, de quem tão bem descreve sentimentos e dor.
Sáio e lá fora está um sol resplandescente que é um autêntico hino à vida. Espero que também o aproveites nesta segunda-feira de inverno, solarenga.
Abraço amigo e intés!!
...To: SeiLá: nem sei, Seilá, o teu nome; nem sei, Seilá o teu email... talvez nem importe (ou será que importaria?...)... a verdade é que náo sei e vi-me na necessidade de utilizar estes comments para te dizer o seguinte: No teu blog Repensando que tem o endereço url intervalos etc. e tal, existe aquela frase normal em todos os blogs que dizem: "View my complete profile"... quem clicar no view my complete profile vai dar ao teu Perfil mas.... se quiser ver o teu blog vai ter de clicar em cima à esquerda onde diz: My webpage.... e, se clicar aí vai ter a um blog que não é o teu e, nessa altura pode desistir de te ler; ou seja, quem clicar aí vai ter ao URL : intervalo.blogspot e não ao teu real URL que é: intervalos (plural e não singular)...
...nestes termos, aconselho-te a alterares esse item
...:) e um *
era o grito mudo do desespero! a indizível dor da perda
que a tua escrita sublima, partilhando!...
beijos
DonBadalo
"Saí de mansinho. Deixei de olhar. Continuei a ver." Também eu vou sair de mansinho mas continuo com as tuas palavras dentro de mim. Quem te deu o condão de (d)escrever assim a dor? Beijão
"Fazer de cada perda uma raíz e, improvavelmente, ser feliz..."
J.M.B.
Olázinho... que anda a menina a tramar?
Um beijo
Este texto dói de tanto magoar!
É um sufoco de bem escrito.
Lindo texto. Gostei muito. Beijinho*
..fui eu que postei o anterior e.. sou capricornio de 16 ;))) Lina* //acordomar.blogs.sapo.pt
Seilá (como eu gostaria de escrever o teu nome... mas faz de conta que está escrito!)
Não consigo ler ainda os teus posts (falta de força na mioleira, falta de concentração, falta de tempo só para mim...).
Gostei muito do novo visual do blog "Repensando"... mais fresco, mais belo, mais - penso! - reflexo de ti mesma.
Quero agradecer toda a camaradagem, a amizade, as coisas bonitas que fizeste e disseste...
Foi muito importante para mim saber que do lado de lá deste monitor tenho amigos... mas amigos de verdade.
A propósito, os meus amigos tratam-me por "Zé" oh algarvia confusa!!!!
Aquele abraço, amiga!
Que dizer depois do muito que já foi dito? Não sei, Seilá, e por isso deixo-te um beijinho de admiradora.
Intenso, deliciosamente escrito... só não queria estar nesse "lado da ponte"! bjos
Passaste-me inteirinha a dor que descreves com esse dom extarordinário que tens para escrever. Fantástico. Beijos, amiga.
À la recherche du temp perdu.
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