sexta-feira, 17 de agosto de 2012

in memoriam



 as tardes acordam doentes e a gente não percebe
os dias acordam com morte, e cada um a rir-se, cada um guerreando como se houvesse um minuto mais, como se aquele não fosse o derradeiro
não percebemos que os olhos que nos olham estão a dizer-nos nunca mais seremos um e outro assim como estamos
não percebemos que aquele gesto que nem fazemos: o mimo, o dizer adeus, o olhar mais um instante, é afinal gesto de dizer eternidade
e nem sequer ficamos uns com os outros consolando, seja gente ou seja o cão que nos abana a cauda, sabe-se lá que sensibilidade terão os animais
continuamos como se nada fosse a olhar as formigas que polulam por ali em busca de migalhas, elas também sem saberem que um dedo de senhora lhes esmagará a existência, que por essas nem sequer choramos, nem sequer nos culpamos de não ter velado para que não tivesse sido como foi
interrogações que colocamos, ridículas e desprovidas de sentido: porque raio não fiquei ou porque raio fui, e mais um ror de dizeres que é a gente a tentar perceber, a tentar imaginar que nem fosse verdade, a tentar reverter, bater no peito uma culpa que nos console daquele mistério que é não termos percebido o que era afinal tão óbvio, tudo a dar-se no nariz da gente, tudo previsto, tudo escrito no filho da puta do destino

2 comentários:

wind disse...

Tal e qual.
Beijos

Ju Blasina disse...

Perfeito, querida! Perfeito!

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

desafio dos escritores
meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

ABRIL DE 2008
meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

Abril de 2009

Abril de 2009
ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein